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12/10/09

Fragância de mim




Mal abri os olhos a música parou de tocar, o vento deixou de acariciar meu rosto e, os sonhos fecharam suas portas deixando-me cá fora sozinha. Deixem-me erguer montanhas, erigir muros e construir castelos.
Deixem-me escutar, o barulho dos passos, gravados ainda na lembrança, de todas as vezes que vieste, ou quando partiste desta ilusão. Quero fechar os olhos e sentir cá dentro todas as cores da alegria, e beber dos risos libertados naqueles dias em que apenas sonhava amar. Tapo os ouvidos para que o eco inebriante das vozes melosas da paixão, não fuja de mim.

Olho, para a recordação e sinto a leveza das aves voando alegremente ao som de uma valsa inaudível. Vejo com exactidão, cada detalhe da fragrância perfumada que fica espalhada sobre o leito onde descansas, encolhido, deitado a meu lado.

Abate-se sobre mim o peso das memórias, que uns dias me fazem leve e noutros me fazem cair tropeçando, desastrada, em todas as reflexões não vividas.
Podia ser uma fada ou uma princesa, podia ser uma dama e pertencer á nobreza. Podia enfeitar o cabelo com flores e dançar abertamente saltitando sobre as pedras dum riacho.
Podia inventar melodias graciosas e aprender a falar com os animais. Podia ser uma sereia, habitar nas profundezas do mar e nadar espontaneamente percorrendo os mistérios das correntes marítimas. Podia até, contar as estrelas-do-mar…
Mas todos os papéis me parecem difíceis e então escolho descer á terra e, ser apenas quem sou e viver assim embrenhada no meu ser.

Deixem-me ver o sol radioso que se abate sobre o perfume das rosas e, que embriaga as borboletas fazendo-as dançar soltas no ar. Deixem-me viver... deixem-me ser livre...deixem-me sonhar.
Porque tudo são apenas linhas de sonhos inventados na memória, meras fitas com que me amarro a um querer, luz dos olhos sem brilho que não ficam alegres jamais, porque o esplendor permanece apenas nas estrelas que acendem o céu… e o céu está tão longe…





Maria Escritos

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