Era uma vez uma rosa que vivia na encosta de uma montanha. Ninguém sabe explicar porque nasceu ali aquela flor. O que é certo é que sem ninguém a ter semeado eis que ali surgiu.
A rosa não tinha ninguém por perto a não ser os velhos pinheiros e fetos que já lá estavam quando ela nasceu. Não tinha afinidade com nenhum deles, apesar de conviverem diariamente. E dia após dia a rosa conversava com os vizinhos durante o dia e, á noite limitava-se a contemplar o céu deixando-se deslumbrar pelo brilho das estrelas.
- Mas que lindas são – pensava a rosa. Se ao menos eu pudesse ter o brilho que elas têm. E suspirava resignada por ter nascido naquele terreno árido e não ter mais ninguém da sua espécie naquela encosta.
Um dia, enquanto tagarelava com os pinheiros mais velhos, escutou ao longe os passos de alguém que se aproximava.
Mas o que poderia ser? – Pensou admirada e curiosa. As plantas não emitem este som. E que barulho é este? Nunca ouvi semelhante.
Perdida nos seus pensamentos nem se apercebeu que um humano se tinha acercado dela e a contemplava, também ele admirado por ver uma flor tão pequena e singela sozinha no meio daqueles pinheiros enormes e grotescos.
- De onde surgiste tu, minha pequenina? Quem te pôs aqui? – Indagou em voz alta o humano.
Estranhando compreender a linguagem, a rosa respondeu-lhe intuitivamente que não sabia. Apenas tinha nascido ali, assim nem mais nem menos.
Ficaram a conversar durante horas a fio e na hora da despedida, o humano disse á rosa que voltaria no dia seguinte.
E assim foi dias e dias seguidos. O humano ia todos os dias conversar com a rosa. Às vezes levava-lhe agua para lhe regar as raízes e arrancava as ervas daninhas que teimavam em crescer á sua volta.
Aos dias sucederam-se os meses, e a amizade entre o humano e a rosa estava estabelecida e ia de vento em popa.
A rosa entretanto criara raízes fortes e estava muito feliz por ter um amigo que se preocupava com ela. A felicidade fez com que passasse a brilhar tanto como as estrelas.
O brilho que dela emanava, por sua vez, alterou a cor das suas pétalas de um rosa pálido para um vermelho carmim. O seu caule outrora esguio, tornara-se num caule robusto e as suas folhas verdes como tudo.
Um belo dia o humano indagou:
- Queres ser a minha rosa?
- Mas tu és de longe, como posso eu ser a tua rosa? – Retorquiu a rosa. Tu não moras aqui na montanha e eu para ser a tua rosa preciso que me regues as raízes todos os dias e me protejas das ervas daninhas. Para eu ser a tua rosa, serei tua para sempre, compreendes? Não é para quando as minhas pétalas começarem a cair, me jogares fora.
O humano fez sinal de concordância. E acrescentou:
- Estas consciente das dificuldades que surgirão entre nós?
- Sim, respondeu a rosa. A distância que nos separa é grande. Tu és um humano e eu sou uma simples rosa. Tu vives numa casa com a tua família e eu apenas tenho as minhas raízes enfiadas neste solo.
- Esta consciente então? – Insistiu o humano
- Sim, respondeu a rosa. Mas toma nota que um dia hei-de querer mais do que isso.
Os dias foram passando e a felicidade entre os dois crescia a olhos vistos. Isto não significa que o humano não fosse ferido pelos picos pela sua rosa quando se sentia magoada por ele não aparecer para conversar com ela.
Um dia a rosa perguntou-lhe:
- Escuta humano, andas a correr para cá todos os dias quando podias simplesmente tirar as minhas raízes deste pedaço de terra e plantares-me num vaso em tua casa. Assim já não terias de te sacrificar a subir a montanha e, eu já não ficaria preocupada sempre que não vens aqui porque espreitaria pela janela do teu quarto e saberia então que estavas lá, que ainda não tinhas partido.
O humano desculpou-se dizendo que a terra lá podia não ser boa. Que as raízes podiam enfraquecer por causa do sol bater todo o dia na soleira da janela. E que nunca tinha pensado no assunto.
- Promete-me que vais pensar? – Insistiu a rosa.
- Quando tiver decidido eu aviso-te – Respondeu o humano
A rosa ficou triste porque percebeu que o humano estava a ficar cansado de a ir visitar mas também não queria deixá-la á mercê daqueles velhos pinheiros.
O tempo foi passando e tudo continuou como antes. O humano não tomava nenhuma decisão e a rosa magoada com a atitude dele atirava-lhe com os seus picos.
Um dia, depois de pressionado pela rosa, o humano confessou que nunca havia pensado na sua proposta porque a rosa que ele queria para ter em sua casa teria de deitar sementes para que dela surgissem outras rosas.
A rosa chorou dias seguidos, sentindo-se traída pelo humano. Enquanto ela podia deitar sementes ele não a quis. Agora, já com as folhas desbotadas e as raízes a enfraquecerem ele dizia-lhe que ela não servia para estar junto dele.
- Mas que mundo cruel é este o dos humanos. Primeiro estabelecem uma ligação, depois destoem tudo apontando defeitos onde outrora havia virtudes.
- Entendeste tudo mal – dizia o humano. O que eu quis dizer foi que nunca pensei no assunto porque não sei como vou reagir daqui a uns anos, se a rosa que eu escolher para mim não puderem sair sementes, outras rosas. Não estava a apontar-te defeitos, apenas falava de mim. Não sei como vou reagir e pronto. Prometo um dia falar a serio contigo minha rosa e avisar-te da minha decisão.
O assunto ficou por ali mesmo e os dois continuaram como dantes. Mas tudo havia sido alterado. A desconfiança de que o humano não iria cumprir a sua promessa de tomar uma decisão apoderou-se da rosa. Então, acautelando-se a rosa mostrava-se entretida com outras coisas e aparentava não estar á espera da sua decisão. O humano por sua vez também estava menos disponível para dar atenção á rosa. E ambos diziam em uníssono: Adoro-te.
Um dia de manha a rosa gritou da montanha pelo humano.
- Bom dia – disse alegremente.
- Sim, diz – respondeu bruscamente o humano.
Embasbacada pelo tom de voz que a feriu desde as raízes até ás pétalas, a rosa apenas retorquiu:
- Bom dia, até logo.
E não lhe voltou a falar senão ate ao dia seguinte, quando já a noite mandou um recado pelo vento explicando que o seu silêncio se devia ao facto de estar magoada com ele. Nunca ele ousara falar com ela daquele jeito. Que durante o tempo todo esperou o compromisso dele e compreendendo que o seu humano jamais lhe daria a resposta prometida ela pediu-lhe que deixasse tudo no silencio para que palavras rudes não fossem proferidas.
O humano então escreveu nas nuvens que a rosa sempre tinha sido livre para encontrar outro dono.
- Mas livre como? Se eu sempre te pertenci desde o dia em que me perguntaste se eu queria ser a tua rosa? – Pensou a rosa
A rosa, então ferida no seu orgulho e atingida bem no meio do seu caule, aguçou os seus espinhos um por um. Pediu aos pinheiros que lhe atirassem umas carumas dos seus ramos e com eles construiu uma parede para que jamais alguém ouse olhar para ela.
E tanto quanto sei ainda lá está.
Moral da história:
Muitos são os que querem o perfume das rosas, mas são poucos os que as sabem cultivar
(Esta é uma historia de ficção. Qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência)
Maria Escritos- 2008
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