As palavras que nunca te hei-de dizer, de todos os momentos que nunca tivemos, nesta lembrança que persiste, corre todas as cidades que nos separam e as rotinas que não tivemos.
Em silêncio profundo sufocam-me na distância desmedida que tivemos entre nós. Então faço esta carta, libertando-me desta aflição, escorraçando de mim tudo o que não te hei-de dizer. Hoje volto a escrever-te mesmo sabendo que nunca irás ler estas palavras.
Nunca te disse tanta coisa, que fica difícil saber por onde começar. O meu “amo-te, preciso de ti” foram tantas vezes pronunciados que caíram na banalidade afundados no abismo que existiu entre nós. O teu “amo-te” vinha sempre acompanhado pela tua ausência. Mas eu quis acreditar, eu acreditei em ti de todas as vezes que soubeste tocar a minha alma.
De todas as vezes que não me quiseste ao teu lado, eu chorei, mas perdoei-te. Em todas as vezes que me magoaste, eu sofri e chorei, mas perdoei-te. Em todas as horas longas de solidão, afastada de ti, eu chorei de amor e de saudade, mas aceitei-te e perdoei-te. Em todos os sonhos inventados em palavras que dissemos e não realizamos, pela distância, eu enchi-me de dor e calei em mim tantas palavras, simplesmente porque te perdoei e acreditei em ti.
Mas as cidades que nos separam, criaram uma profundeza tão grande que as palavras, já gastas, não querem dizer nada. Dentro de ti já não há nada que me peça água e o passado torna-se inútil como um trapo. As palavras tornam-se ineficazes de tão usadas que estão. Eu calo-me e choro. Porque te amava com todas as minhas forças, e sem ti o meu amor não se acalmava.
Nunca irei dizer que te odeio, direi antes que lamento não ter tido coragem antes, para me perdoar a mim mesma no meio de tanta dor e tanta ausência.
São tantas, mas tantas as palavras que nunca te disse… porque o meu mais profundo sentimento também não soubeste escutar.
Amei-te e amo-te. Mas hoje, já dorida com tanta dor e distância atiro estas palavras ao papel e peço ao vento que as leve para longe de mim.
Eu fui a sombra de um amor inventado por ti, mas perdoei-te e sobrevivi... porque as palavras atiro-as para longe, mas o amor fica em mim...
E tu aí também ficas sem mim.
Maria Escritos
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Boa noite Maria Escritos:
ResponderEliminarAntes de tudo.... devo confessar que gostei destas suas palavras tão verdadeiras, doridas,ainda cheias de amor que o vento nunca as levará para longe, porque outro vento devolvê-las-á!
Beijinho.
Manuela de Noronha e Viegas
As palavras são cata-ventos.
ResponderEliminarAh, soprasse sempre o vento desejado!...
Maria, como dizia hà dias, algo em nós se decalca, se copia...
ResponderEliminarNão faz ideia, certamente, que essas palavras que nunca dirá, são o espelho de outras palavras que um dia nunca consegui dizer...
O seu desespero transpira verdade e emoção.
E deixe que lhe diga que o vento levará, mesmo, as suas palavras para longe... pode levar tempo, a brisa pode ser muito leve, mas soprará no caminho certo... Um documento embuido do mais puro sentimento. Parabens pelo texto. Elvira Almeida
Minha querida Maria não sei como te expressar aquilo que sinto ao ler estas tuas palavras sinceras mas amarguradas , verdadeira e cheias de emoção, de um amor que se foi, mas que ao mesmo tempo ainda existe dentro desse teu coração ... as palavras vão com o vento Maria e chegarao com toda a certeza a quem as tem de escutar.. resta saber se quem as tem de escutar as saberá interpretar e ler com a atenção devida..
ResponderEliminarminha Querida amiga, apesar deste sentimento de angustia dou-te os meus parabéns por tão bonita carta ...um beijo doce nesse teu coraçãozinho despedaçado de tristeza e a precisar de tantos mimos
Alexandra Trinca ( tua "Irmã" Xana )
Muito bonito .
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