Nos meus tempos de menina criança, sempre detestei livros. Odiava a leitura e tinha muita dificuldade em fazer composições nas aulas, simplesmente porque também não gostava de escrever. Naquele tempo, a minha cabeça vivia sempre nas nuvens, imaginando que por detrás de um ecrã de televisão estavam realmente pessoas vivas metidas dentro daquela caixinha. Acreditava que as fadas e os anões existiam porque os via nos meus sonhos inventados à luz do dia. E com eles eu brincava, servindo chás em loiça de porcelana daquelas que hoje já não existem. Miniaturas de chávenas lindas e finas com que eu brincava.
Os livros para mim, não significavam nada, pois que tinha os seres da imaginação para brincar comigo e me tornar alegre. O meu passatempo era correr atrás do imaginário e plantar as flores que residiam nos canteiros da minha mãe. Tenho saudades do cheiro dos gladíolos e das outras flores que tanto semeei. Sinto falta da simplicidade da vida de criança. Sem ter responsabilidades, nem obrigações de maior. O único objectivo era ir para a escola e brincar até me tornar adulta.
Mas eis que um dia, confinada ao meu quarto, castigada por algo que fiz, resolvi pegar num livro e comecei a ler. Oh maravilha das maravilhas. Grande descoberta a minha. Afinal naquelas folhas arrumadas dentro de uma capa com desenhos, existia um mundo mais sublime que o meu. Destapadas que foram as páginas, fiquei com um mundo maior e aumentou a minha imaginação. Será que existiram mesmo as histórias contadas nos livros. Acho que sim, tal como eu tinha como amigos as fadas, os duendes, os animais, as flores, enfim, todo o imaginário possível.
A partir desse dia não parei mais de ler. Li de tudo um pouco sempre de acordo com o que fizesse a minha atenção disparar. Mas, quanto mais eu lia, mais solitária ficava. Porque eu via a beleza descrita, escrita em palavras que a mim me fugiam. Vivia páginas de pura emoção e depois sofria quando não tinha mais páginas para ler.
Fiz dos livros a minha companhia e das pequenas frases que escrevi fiz o meu fiel amigo a quem tudo podia desabafar - os meus medos, as minhas alegrias, as minhas tristezas, os meus choros, as minhas esperanças… o meu amor!
E tal como me apaixonei pelos livros, rendi-me aos encantos da escrita nas páginas que ia preenchendo com as minhas experiências vividas.
Já escrevi dramas, já escrevi contos, já construí fábulas e histórias. Já vivi sonhos planeados destinados a não passarem do meu papel. Já verti sorrisos em forma de letras e lágrimas de sangue, em meus poemas. Já imaginei tanto, quis tanto, acreditei tanto que voei para além das minhas páginas e caminhei num tapete de flores e de luz. E ainda hoje me sinto pequena perante o mundo gigantesco que a escrita me oferece e, que o saber dos mundos sagrados transcritos em linhas se forma à minha frente.
E então, embriagada com tal grandeza, corro sôfrega a escrever talhando nas páginas da minha vida todo o meu sentir. Tenho sede de sonhar sem sair deste mundo. Tenho sede de viver e por isso arranco as palavras de mim e rabisco os meus escritos... sozinha aqui no meu canto!
Maria Escritos
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