“Há um olhar suspenso na chama tremeluzente da escuridão do quarto, que trespassa o silêncio cerrado parado no ar. Voltam as lembranças dos problemas por resolver. E tantos que eles são. Sinto-me cansada e derrotada. A insatisfação ocupa agora a minha essência, que, pesadíssima luta para se arrastar e fugir. A minha cabeça anda ás voltas e o corpo batalha para se mater erguido. Custa-me raciocinar, todos os meus pensamentos se inclinam para o mesmo lado. Será talvez o fardo que agrilhoado a mim pende sempre para esse mesmo lado.
Eu quis ser livre, ser leve, quis ter um arco-íris presente e constante, mas as sombras teimam em tirar-me os sonhos que consigo construir. Deus deu-me um anjo, e nem a esse anjo eu consigo fazer feliz. Há um buraco negro esculpido no meu ser, uma mancha talhada com mestria pela mão de quem me deu a vida. Não aguento mais este peso que me sufoca, nem este ar que respiro e me queima as entranhas. Não aguento o bater deste coração que quase me perfura o peito, em constante sobressalto.
Não aguento ter de dizer “não” tantas vezes, nem consigo olhar nos olhos da minha filha e dizer que não lhe posso dar isto ou aquilo, por causa de outro alguém.
Estou cansada da família, estou cansada do trabalho, estou cansada da vida e estou farta de tudo. Já não consigo sofrer mais nem fazer sofrer por minha causa Já não posso com o mundo às costas. Sou um nada e um nada serei. Sou uma cobarde e uma cobarde serei. Sou uma fraca e uma fraca serei. Hoje já não sou nada, e tudo de nada serei.
Deixo algumas palavras escritas dirigidas a algumas pessoas:
À minha princesa, peço-lhe que me perdoe, mas eu não consigo olhar mais a carinha dela e ver as lágrimas a escorrer pela cara abaixo de todas as vezes que não consegui estar á altura das suas necessidades.
À minha mãe, agradeço por matar os filhos em vida.
Ao meu pai, peço-lhe que cuide da minha filha.
Ao meu amor, peço-lhe que acenda uma vela por mim que me ilumine o caminho do céu.
Faz-se luz nos mistérios que jazem latentes na força que se conserva escondida e albergada no meu Ser. Eu não já consigo andar aqui pois a luz enfraquece com o ataque das sombras que habitam em mim.
Paula Moreira / Maria Escritos
09/11/09
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
António Ramos Rosa
ResponderEliminarNão posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração.
não posso esperar por enviar estas palavras ...1 bj
Amiga Maria ou Paula como vejo aqui escrito,enfim este foi um texto triste já se sabe em que momento,mas isso é já passado,esquece esse susto,de facto ve-se que este texto é um grito de revolta mas as tuas palavras amiguita essas só vão ser daqui a muitos anos,agora muita força e que as palavras não te faltem nunca,até é bom deitares sempre tudo cá fora.
ResponderEliminarTenho a certeza que a tua princesinha percebe as tuas dificuldades de não lhe poderes dar isto ou aquilo quando ela quer,mas sabes o que é material não é o importante e de certeza que ela prefere muito mais o teu amor e carinho e os teus miminhos do que bens materiais.Vejo pelo teu texto que te faltou o amor e carinho que devias ter tido da mãe infelizmente e deve ser o que mais precisas mas isso tens a tua filhota que te deve dar muito e já sabes tens também os teus amigos com quem podes sempre contar.
bjs
Boa prosa. Triste carta de despedida.
ResponderEliminarO importante é o que há dentro de nós ainda por viver.
Texto lindo, espero e acredito que nao tenha sido o fim... Nao é facil...
ResponderEliminarum bj