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19/03/10

À sombra das tuas palavras, eu amei e sofri - 1ª parte (fim do I capitulo)


Com o passar destes anos sempre falámos, mas não comunicámos. Perdemos tempo com coisas banais tipo conversa da treta e nunca transmitimos o que queremos para o nosso futuro. Não nos demos a conhecer. Em suma, embora tu soubesses o que eu pretendo, nunca deste a demonstrar que pretendias o mesmo. Chego a perguntar porque caminhaste ao meu lado sem nunca te abrires comigo.
Dizes que és um solitário, ok tudo bem! Mas num relacionamento tem de haver diálogo, e nós não tivemos. Sabes amor, eu via os dias a passar e nada entre nós se realizava , nada se concretizava. Apenas o vazio contrabalançava com o amor que sinto por ti.
Falavas-me dos teus sobrinhos; que ias aqui e acolá com eles enquanto eu aqui pensava porque não falavas do que queres, não falavas dos teus sonhos por realizar e das conquistas que ainda queres fazer. Vi passar o tempo, que tantas vezes pediste, e a tua ideia de comprar casa há anos e nunca o fizeste até hoje. Relembro as minhas condições impostas em Janeiro de um ano passado e nos meses todos que se passaram, ainda não fizeste nada para tentar cumprir uma delas. Nem voltaste a falar sobre o assunto. O teu tempo e o teu silêncio foram a causa do meu vazio e da minha tristeza. Chego a pensar por vezes que é melhor não te amar do que continuar assim. Mas aí o meu peito apertava tanto que me via sufocar com a dor imaginária de não te ter.
Respiro-te, e cada poro da minha pele precisa do teu toque. Se eu conseguisse descrever por palavras o quanto te amo, poderias ver o mundo de cores alegres e berrantes que brilham e alimentam este amor por ti. Mas ao mesmo tempo, o teu silêncio e relutância em falar sobre nós, turvaram esse mundo onde apenas eu vivi e vivo esse amor por ti.
Apaixonei-me pela tua figura e pelo pouco que me mostraste de ti. Vi-te com o coração e não com os olhos, aliás o que os meus olhos viram foi iludido pelo vazio que por sua vez originou o ciúme do tempo que dedicas aos teus amigos.
Muitas vezes me senti só, a precisar de ti para me animar e houve sempre alguma coisa do teu lado que te afastava de mim. Explodia e discutia contigo porque te amo com todas as forças do meu ser, e nestes anos todos não tenho nada de teu; nada de concreto. Apenas palavras com promessas e promessas por realizar.
Criámos um círculo vicioso entre nós e fomos tecendo teias que nos levaram a este ponto. Ao ponto de termos medo de nos abrirmos um com o outro e nem nos apercebermos que nos estávamos a destruir.
Sempre julguei que tinhas vergonha de mim. Manteres-me á distância, num silêncio absoluto, quase em segredo, era como se eu fosse uma sombra na tua vida.
O facto da tua amiga especial ter passado na minha vida foi um erro pois apercebi-me que te abriste com ela e nunca o fizeste comigo. Aliás, sei que te abriste com os teus amigos e nunca foste capaz de o fazer comigo. No entanto admito e reconheço que por vezes é muito mais fácil falar com os outros mas e sobre o nosso nós, o nosso EU? Quem deveria falar? Nós ou os outros?
Admito e sei que posso perecer-te complicada com esta coisa da “EU” e “ALMA” , mas acredito plenamente que eu sou duas: Matéria e essência.
Este eu aqui é a minha essência que sente, é ela que tem vindo a sofrer, e muito, sempre que te voltaste ao silêncio e me recusaste as respostas.
Sempre que precisei de um carinho teu e não o tive, sempre que te disse que tenho saudades tuas e não me respondeste, sinto-me infeliz por te amar e infeliz por não te ter.
E na verdade nunca senti que te “tinha” porque nunca houve diálogo e facilidade de comunicação sobre nós. E sempre fizeste de tudo para me afastar de ti. E irás continuar a afastar até nem a amizade restar.
Muitas vezes quis falar ao teu coração, até que descobri que nem sabes onde ele fica.
E eu, esperando por ti, fiquei sentada a chorar, vendo apenas o tempo passar, com a sombras das tuas palavras a toldar-me o olhar.



Maria Escritos
© Todos os direitos reservados

18/03/10

À sombra das tuas palavras eu amei e sofri - 1ª parte (continuação)



Quando nos conhecemos, eu estava numa fase muito difícil. Estava emocionalmente desequilibrada e com a nossa conversa e o meu desabafo escrito sobre o que aconteceu comigo, de certa forma ajudou-me a recuperar o meu “eu”. Sempre pensei que tivesses ficado a conhecer uma parte de mim que eu mais prezo: os meus sentimentos com a sinceridade e pureza dos mesmos, e afirmo-o assim porque eu SINTO e não procuro saber porque sinto. É a minha sensibilidade e intuição que me leva a sentir e a não questionar porque sinto.
Eu não quero ter de passar a vida a questionar a razão das coisas, quero deixa-las fluir e nisto ainda ando em aprendizagem… um dia sei que chegarei lá. Deixei fluir o nosso tempo o melhor que pude e com as emoções que em mim provocaste. Esse sentimento engrandeceu em mim e neste momento admito que precisei tanto de ti como do ar para respirar; contudo aprendi que quando se ama verdadeiramente, não se pode aprisionar ninguém.
Durante anos entreguei-me e dediquei-me a ti o melhor que sei fazer, e julguei estar a caminhar para um futuro certo. No entanto a tua decisão de adiar, e sempre adiar, por medo das minhas discussões, levou-nos a um vazio. Ou seja, eu amo-te e sei que na convivência do dia-a-dia aprenderíamos a “estar” em sintonia um com o outro, tal como acontecia nos poucos fins-de-semana que passamos juntos em minha casa. Saberia que todos os dias ao regressar a casa TU estarias lá para me abraçar… e isso é o que eu mais queria ter de concreto para anular o meu vazio. Não sei se me amaste, nunca tive a certeza, e não me julgues mal…. Ao dizer isto estou a ser sincera, porque quando se tem medo não se sente mais nada a não ser esse “medo” que ilude tudo o resto e nos faz acreditar no que não é, e a ver o que não há, entendes?
Deixa-me explicar que o facto de eu nunca ter conhecido ninguém da tua família contribuiu grandemente para esse vazio e a distancia entre nós sempre foi como uma estaca cravada no meu peito. O facto de nunca me teres convidado para ir passar um fim-de-semana contigo aí, nem que fosse nos arredores… isso fez-me sentir sempre como que deixada de lado na tua vida…. O não saber de nada nem poder tomar parte de nada, era como se eu fosse uma sombra na tua vida. Enquanto o meu amor por ti crescia, a sombra aumentava. Disseste que já podias prever quando eu ia ter discussões contigo, e eu pergunto, porque nunca as evitaste? Porque deixaste acontecer? Porque nunca te abriste comigo? Repara que eu de ti nada mais sei do que o teu nome, o teu endereço, o nome e morada do teu trabalho e o nome dos membros da tua família…. Quanto ao resto, ao dares-te a conhecer, nunca o fizeste. De mim, sabes os podres todos. Não te escondi nunca nada.
Como te disse, nunca namorámos verdadeiramente e as conversas do dia-a-dia foram ficando mais banais contribuindo largamente para aumentar o vazio. A falta de evolução, até na nossa conversa, fez-nos estagnar na relação… nem só de amor vive o homem! Há que saber cultivar o amor e sobretudo conserva-lo. E aqui falhámos os dois. Eu deveria ter tido coragem e mais determinação, para te dizer que me estava a sentir vazia e que carregava apenas o peso do amor que sinto por ti, tornando-me pesada e cansada, em vez de discutir contigo. Mas por outro lado, sempre fugiste a uma conversa a sério entre os dois. Nunca querias falar sobre o futuro. Pedias tempo… só tempo, mais tempo.
Acho que agi assim contigo porque quis acreditar piamente no teu amor e ia sempre dizendo para mim que és assim mesmo… mas a dada altura eu pergunto-me: porque pode ele ser assim e eu não posso ser “eu”? Porque tenho de ser eu a aceitar tudo e ele não pode aceitar-me também como eu sou na verdade? E muitas vezes antes da catástrofe acontecer tu não me ouviste, o que ouvias interpretavas mal e por isso explodia contigo!
Quero dizer com isto que ao mesmo tempo que aumentava o meu amor por ti, aumentavam também as minhas dúvidas, que nunca tive coragem de falar contigo, porque sempre que começava uma conversa ou pelo menos julgava que estava a tentar começar, tu evadias-te de respostas concretas e objectivas o que me magoava e muito… fui-me magoando demais e amando demais. Cheguei à conclusão que te amo sem te conhecer e nem sei porque te amei: mas bastava-me amar-te.
Gostava que tivéssemos tido um final feliz e queria ter tido a possibilidade de construir a minha realidade com base no sonho que um dia tive: o de estar e ficar ao teu lado para sempre, e que disseste ser também o teu sonho… mas que tinhas medo!
Queria ter tido em ti aquela pessoa que me escuta e me entende sem me julgar nem se magoar pelo que escrevo ou publico. Aquele que sabe que vivo só para ele e por ele… Queria ter-te amado sem ter tido de pedir desculpa nem sentir-me culpada por te amar.
É tão simples o que eu quero desta vida…E quero sem duvida alguma ser amada na mesma proporção e medida. Quero poder falar sobre o que eu sinto sem ficar com peso na consciência sobre se vou magoar ou não, queria que tivesses confiado mais em mim para eu poder abrir a minha alma sem receio. Queria que tivesses feito o mesmo comigo, pois só assim estaríamos a construir solidamente a nossa relação e a lutar para realizar algo que se pudesse ter sonhado. Eu pedi-te para sonhar o mesmo sonho que tu, para que me deixasses crescer como pessoa ao teu lado. Tu respondeste-me que no primeiro ano de namoro apenas não levamos o caso a sério…Mas nós já estávamos no terceiro ano meu amor, como assim, não foi para valer?


Maria Escritos
© Todos os direitos reservados

A sombra das tuas palavras, eu amei e sofri - 1ª parte



- Tem alguém aqui com mais de 30 anos? – Foi assim que tudo começou… há cinco anos atrás. Recordo o teu primeiro beijo, tímido, inexperiente tanto quanto assustado, mas doce, eternamente doce…. Ainda me vem à memória o cheiro doce do amor da primeira vez que possuíste… Ainda sinto a sombra da tua mão agarrada à minha, as tuas pernas enroladas nas minhas e os dedos dos pés entrelaçados, como se não pudéssemos ser separados por nada deste mundo.

Mas depois, quantas vezes me atulhaste o coração e o penduraste na esperança, para depois o largares desprevenido, como um balão que se solta das mãos duma criança e se esvai no ar?
Quantas vezes afirmaste que eu era a única com quem pensaste passar o resto da tua vida, ao mesmo tempo que me mantiveste num cativeiro, agrilhoada ao tempo que tanto pediste para resolver e tomares decisões por ti e só por ti?
Quantas vezes me acusaste de não te dar atenção e andar só voltada para o meu trabalho, depois de teres afirmado que pelo facto de eu já não poder ter filhos já não sabias se podias pensar num futuro … comigo!
Sabes, ainda recordo no dia em que houve a suspeita que eu poderia estar grávida e tu afirmaste que não podíamos nem queríamos ter aquele filho. Eu quis tanto um filho teu, quis tanto estar grávida naquela altura, mas tudo não passou do processo de envelhecimento do meu corpo já usado e também gasto por ti. Sabes quantas vezes fiquei sem dormir por tu decidires por mim sem me consultares?
Lembras-te daquela vez que disseste que íamos passar um fim-de-semana a Barcelona, para eu combinar com o meu pai de ficar com a Cat, e logo marcaríamos o passeio? Eu recordo sim, inclusive que passada uma semana me disseste que ias a Barcelona com os teus amigos e já andavas a ver preços de viagens.
Porque é que quando nos conhecemos disseste para eu ir viver para a tua cidade e depois que começámos a namorar sempre me impediste de ir ai? E quando eu disse que ia a tua casa esclarecer com a tua mãe, quem foi que mentiu na conversa que eu tive com ela ao telefone - onde ela me confessou que sempre me negaste como tua namorada (mesmo ao fim de três anos) – tu ameaçaste que chamavas a policia para me expulsar dali?
Ainda me lembro das vezes que nos insultamos através de sms, mas a mais marcante foi o dia em que nem no hospital, ao lado do leito de morte do meu irmão, paraste de me agredir e acusar de te trair. Sim, insultei-te, e lembro-me exactamente de todas as palavras que te disse, e das que me disseste tu a mim.
Os ciúmes, tantos ciúmes para quê, se tudo o que eu quis que tu escutasses recusaste ouvir? Para quê tanta desconfiança se por mil e uma vezes te disse que estava cansada da distância e do relacionamento pela net, e tu nunca me quiseste ao teu lado.
Para quê alongar mais o inevitável quando compras uma casa, para passarmos mais tempo juntos, dizes, mas não me permites que a vá conhecer , agora quando eu posso, mas envias-me o teu NIB para eu pagar a parte que eu insistia em pagar. Porque é que tudo teve de ser como tu quiseste, como tu decidiste sem me consultares?
Porque é que não reverteste a situação quando te disse que estava a repensar a nossa relação, nem quiseste mais conversa, mas enviaste mensagens às tuas amigas a saber o motivo da tristeza delas? Porquê meu amor?
Acaso pensas agora que eu poderia continuar a acreditar em ti e no teu amor, depois de tanto perdão e tanta compreensão. Não te dás conta que o meu amor por ti, superou o amor que tenho por mim mesma ao ponto de tudo isto e mais alguma coisa ter perdoado, esquecendo-me de mim?
Lembras-te quando várias vezes te disse que morreria por ti e do teu desagrado em ouvir tais palavras? È engraçado amor, mas tu foste a causa da minha “quase” morte em vida e ainda o responsável por duas tentativas de suicídio nestes últimos 4 anos de relacionamento. Porque o amor é uma valsa, uma dança que implica os dois…
Quando perguntei se ali havia alguém com mais de 30 anos, deveria ter referido 30 anos para me amar e não 30 anos para me magoar.
Apesar de tudo, os meus olhos cegos apagaram do coração todas as mágoas, todos os choros, todas as noites sem dormir e dias sem comer… Porque o amor também é cego e não vê… O amor sente-se, vive-se , em conjunto e não separados!


Maria Escritos
© Todos os direitos reservados

16/03/10

Palavras que nunca te hei-de dizer


As palavras que nunca te hei-de dizer, de todos os momentos que nunca tivemos, nesta lembrança que persiste, corre todas as cidades que nos separam e as rotinas que não tivemos.
Em silêncio profundo sufocam-me na distância desmedida que tivemos entre nós. Então faço esta carta, libertando-me desta aflição, escorraçando de mim tudo o que não te hei-de dizer. Hoje volto a escrever-te mesmo sabendo que nunca irás ler estas palavras.

Nunca te disse tanta coisa, que fica difícil saber por onde começar. O meu “amo-te, preciso de ti” foram tantas vezes pronunciados que caíram na banalidade afundados no abismo que existiu entre nós. O teu “amo-te” vinha sempre acompanhado pela tua ausência. Mas eu quis acreditar, eu acreditei em ti de todas as vezes que soubeste tocar a minha alma.

De todas as vezes que não me quiseste ao teu lado, eu chorei, mas perdoei-te. Em todas as vezes que me magoaste, eu sofri e chorei, mas perdoei-te. Em todas as horas longas de solidão, afastada de ti, eu chorei de amor e de saudade, mas aceitei-te e perdoei-te. Em todos os sonhos inventados em palavras que dissemos e não realizamos, pela distância, eu enchi-me de dor e calei em mim tantas palavras, simplesmente porque te perdoei e acreditei em ti.

Mas as cidades que nos separam, criaram uma profundeza tão grande que as palavras, já gastas, não querem dizer nada. Dentro de ti já não há nada que me peça água e o passado torna-se inútil como um trapo. As palavras tornam-se ineficazes de tão usadas que estão. Eu calo-me e choro. Porque te amava com todas as minhas forças, e sem ti o meu amor não se acalmava.

Nunca irei dizer que te odeio, direi antes que lamento não ter tido coragem antes, para me perdoar a mim mesma no meio de tanta dor e tanta ausência.

São tantas, mas tantas as palavras que nunca te disse… porque o meu mais profundo sentimento também não soubeste escutar.

Amei-te e amo-te. Mas hoje, já dorida com tanta dor e distância atiro estas palavras ao papel e peço ao vento que as leve para longe de mim.

Eu fui a sombra de um amor inventado por ti, mas perdoei-te e sobrevivi... porque as palavras atiro-as para longe, mas o amor fica em mim...

E tu aí também ficas sem mim.


Maria Escritos
© Todos os direitos reservados

14/03/10

O meu nome é Maria Escritos


Nos meus tempos de menina criança, sempre detestei livros. Odiava a leitura e tinha muita dificuldade em fazer composições nas aulas, simplesmente porque também não gostava de escrever. Naquele tempo, a minha cabeça vivia sempre nas nuvens, imaginando que por detrás de um ecrã de televisão estavam realmente pessoas vivas metidas dentro daquela caixinha. Acreditava que as fadas e os anões existiam porque os via nos meus sonhos inventados à luz do dia. E com eles eu brincava, servindo chás em loiça de porcelana daquelas que hoje já não existem. Miniaturas de chávenas lindas e finas com que eu brincava.
Os livros para mim, não significavam nada, pois que tinha os seres da imaginação para brincar comigo e me tornar alegre. O meu passatempo era correr atrás do imaginário e plantar as flores que residiam nos canteiros da minha mãe. Tenho saudades do cheiro dos gladíolos e das outras flores que tanto semeei. Sinto falta da simplicidade da vida de criança. Sem ter responsabilidades, nem obrigações de maior. O único objectivo era ir para a escola e brincar até me tornar adulta.
Mas eis que um dia, confinada ao meu quarto, castigada por algo que fiz, resolvi pegar num livro e comecei a ler. Oh maravilha das maravilhas. Grande descoberta a minha. Afinal naquelas folhas arrumadas dentro de uma capa com desenhos, existia um mundo mais sublime que o meu. Destapadas que foram as páginas, fiquei com um mundo maior e aumentou a minha imaginação. Será que existiram mesmo as histórias contadas nos livros. Acho que sim, tal como eu tinha como amigos as fadas, os duendes, os animais, as flores, enfim, todo o imaginário possível.
A partir desse dia não parei mais de ler. Li de tudo um pouco sempre de acordo com o que fizesse a minha atenção disparar. Mas, quanto mais eu lia, mais solitária ficava. Porque eu via a beleza descrita, escrita em palavras que a mim me fugiam. Vivia páginas de pura emoção e depois sofria quando não tinha mais páginas para ler.
Fiz dos livros a minha companhia e das pequenas frases que escrevi fiz o meu fiel amigo a quem tudo podia desabafar - os meus medos, as minhas alegrias, as minhas tristezas, os meus choros, as minhas esperanças… o meu amor!
E tal como me apaixonei pelos livros, rendi-me aos encantos da escrita nas páginas que ia preenchendo com as minhas experiências vividas.
Já escrevi dramas, já escrevi contos, já construí fábulas e histórias. Já vivi sonhos planeados destinados a não passarem do meu papel. Já verti sorrisos em forma de letras e lágrimas de sangue, em meus poemas. Já imaginei tanto, quis tanto, acreditei tanto que voei para além das minhas páginas e caminhei num tapete de flores e de luz. E ainda hoje me sinto pequena perante o mundo gigantesco que a escrita me oferece e, que o saber dos mundos sagrados transcritos em linhas se forma à minha frente.
E então, embriagada com tal grandeza, corro sôfrega a escrever talhando nas páginas da minha vida todo o meu sentir. Tenho sede de sonhar sem sair deste mundo. Tenho sede de viver e por isso arranco as palavras de mim e rabisco os meus escritos... sozinha aqui no meu canto!

Maria Escritos
© Todos os direitos reservados

12/03/10

Metades


Felicidade antecipada
Armazenada com carinho
Meses a fio…
Alegria incontrolável
Saltando no peito
Como o riso duma criança
Destino imaginado
Rutilando vorazmente
No escuro das noites frias
Ah sorte maldita
Que tanto foges de mim
Como o diabo foge da cruz
Que esvoaças na minha frente
Rindo-te de mim
Cantarolando no ar
Não vês que de tanto que te persigo
E do tanto que te ris
Fazes de mim a metade
De uma laranja demolida.



Maria Escritos 12-03-2010
© Todos os direitos reservados

10/03/10

Cântico de amor


Quando comecei a escavar na pedra, a tristeza subiu-me pelo peito atravessando o meu tronco como uma bola entalada numa tubagem, e despenhou-se dos meus olhos com vontade de sair. Vieram as lágrimas empurrando-se umas ás outras, como quem fura uma fila para sair em primeiro lugar.
As gotas duras tombando sobre a pedra que eu sustinha nas mãos, iam manchando a pedra escura, que eu via agora embaciada através do choro.
Há dias assim. Há dias em que a tristeza me assola e se apodera de mim. Tenho dias, demasiados dias, em que a distância faz eco num vazio que habita o meu ser. Há dias, em que eu sinto tanto a tua falta, que desespero por não te ver. A tua voz escutada ao telefone e tão desejada melodia aos meus ouvidos, já não consegue apaziguar esta guerra da tua ausência nem com trincheiras de palavras suaves preenchidas de amor. Há dias em que preciso tanto da tua sombra que me odeio por te querer tanto assim. E é à noite que esta melancolia colada à minha alma, me afunda num mar de lágrimas retraído dias a fio.
È o servir o jantar e ver o teu lugar na mesa substituído por um sms. È o levantar a mesa agarrada ao telefone a saber se jantaste bem. E o que vais fazer hoje á noite? Futebol? Ok amor, não há problema – finjo, distraindo a decepção com um sorriso. Então escondo-me, escavando pedras com os meus dedos, esculpindo lentamente um abismo nesta pedra sepulcral.
E quando mais logo me for deitar, sei que vou olhar para o teu lado da cama ansiando por te ver. Mas não. Apenas o frio do vazio da minha outra metade desabitada está lá para me acolher. E os teus olhos meu amor? Onde pousas o teu olhar quando te deitas a descansar? E os teus beijos remetidos sem endereço certo que não chegam a mim?
Esta será mais uma noite batalhando com o silêncio abafado, procurando sentir o teu abraço, as pernas entrelaçadas nas minhas e os teus lábios nos meus… E por isso eu choro um choro de criança magoada, por te amar tanto, por te querer tanto, e me deitar abraçada a um tanto de nada dorido com a tua ausência.
Faço-me embalar em sonhos que nos sonhos foram sonhados, mais de mil vezes devaneados, todos eles sobressaltados, ao ritmo da voz que baloiça nos meus ouvidos…

“me quedaré mirando el mar de tus ojos,
con mis lábios escribiendo besos en tu boca,
con tus manos bañandome al sereno
desnuda bajo la luna.
Y cuando la noche llegar al final,
com el pecho palpitando de gozo y alegría
te entregaré enardecida
mis cánticos de amor...”



Maria Escritos
© Todos os direitos reservados

Bajo la luna


...me quedaré mirando el mar de tus ojos, con mis lábios escribiendo besos en tu boca, con tus manos bañandome al sereno desnuda bajo la luna. Y cuando la noche llegar al final, com el pecho palpitando de gozo y alegría te entregaré enardecida mis cánticos de amor...



Maria Escritos
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05/03/10

Psiquê


Altas estrelas de luz ardente
Que a terra prende em raios sensuais
Longos cabelos sedosos
Reflectem seus tons lascivos

Esvai-se a luz em langorosos cansaços
Enlevos sôfregos de languidez
Restituo das mãos o aroma aos nardos
Dou cor aos ciprestes com a boca

E a Luz da estrela que brilha em mim
Extenuada com o pairar da aurora
Confrontada apenas a contemplar
Ondas maduras nos teus cabelos ao luar

A noite em sombra e luz se consome
Aromas de fruta ou de lilás
Sobre uns olhos sonolentos
Pálpebras roxas que tombam com ternura

Ah, doces mãos amoráveis
Que a minha tristeza fechasses
E assim me embalassem piedosas
No chão que tu sovas me enterrassem


Maria Escritos
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04/03/10

Nota da autora in "Afrodite, ou as brumas de uma paixão incontida"


Surgida das brumas do mar, Afrodite foi imortalizada pelas mãos de grandes mestres. No entanto, há duas versões sobre o nascimento desta grande Deusa. Na versão de Homero, Afrodite nasce de modo convencional, como sendo filha de Zeus e Dione, ninfa do mar. Já na versão de Hesíodo, ela nasce como consequência de um acto bárbaro. Cronos, cortou os órgãos de seu pai Urano e atirou-os ao mar. Uma espuma branca surgiu em torno deles e misturando-se no mar, gerou Afrodite. Sendo assim, Afrodite é filha do Céu e do Mar, a Deusa Mãe original em muitas tradições, e o primeiro fruto da separação do céu e da terra.
Como foi gerada no mar, é a filha do começo, é a figura que, igual à Deusa original, volta a unir as formas separadas de sua criação. Nesse sentido, Afrodite "nasce" quando as pessoas recordam, com alegria, o vínculo que une os seres humanos com os animais e com toda a natureza e ainda, quando percebem esse vínculo como uma realidade clara e sagrada.
O mito sugere que isso aconteceu mediante o amor. A união converteu-se em reunião, pois do amor que gera vida faz-se o eco do próprio mistério da vida.

“Também eu, Haafrodite, surgi um dia através das brumas de um mundo virtual. Do meu passado nada reza na história, excepto nas crónicas que nós dois vamos deixar gravadas nas páginas dos nossos dias, das nossas realizações. E a nossa história remonta há cinco anos atrás.

Naquele dia, tu surgiste vindo do nada e eu do nada te apareci. Por entre a névoa de um mar povoado, tu destacaste-te aos meus olhos pela tua doçura, e eu, talvez pelo meu nome.

Distantes e afastados pela terra que habitamos, o fulgor que me deste a partir do teu monte Olimpo, acendeu em mim uma chama que tem ardido até hoje. Em mim, essa centelha de luz gerada de ti, concebeu a névoa da minha labareda, com todo o resplendor, e que nestas páginas deixo gravadas para que durem uma eternidade.

Tu, meu “Deus Grego”, serás sempre o criador deste mistério ou destas brumas da minha paixão incontida”


Eternamente tua,
Haafrodite


Maria Escritos
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03/03/10

Pétalas do meu desejo


Toma os meus seios perfeitos
Que cabem inteiros nas tuas mãos
Passa tuas mãos no meu corpo cansado
Sente os meus seios gelados
Que são mais teus do que meus

Beija meu peito inquieto
Tal como a asa procura a flor
Empresta-me o doce trago da tua boca
Da tua língua humedecida
Onde se esconde o teu mel

Chamo-te com as mãos
E abro-te meu peito
Desce de onde estiveres, meu amor
Sorve de meus beijos, regatos tranquilos
Onde se abrem nenúfares brancos e perfumados

Fecha tuas asas de luz
Nas pétalas do meu desejo
Amado da minha Alma
Desejada visão que me acompanha
Como um sonho de amor

Tu, minha espiga de oiro
Que o sol beija pela manhã
Sente meus seios macios e rijos
Prova a doçura da minha boca
Fecha esta porta tão aberta como meu peito

No meu leito não há muros
Nem meus braços se cruzarão
Quando tocares meu corpo
Pois que tu és meu senhor
E eu a escrava que te espera

Guarda meus seios
Nas palmas das tuas mãos
Meu desejo é que me desejes
Agarrada à tua carne
Selo meu para que não me percas


Maria Escritos
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