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31/08/09

Se eu ...deixar...




Se eu deixar de falar,
desvenda o mistério retido no meu olhar.
Se eu deixar de olhar,
conduz as palavras ao meu horizonte.
Se eu deixar de sorrir,
vigia o fulgor do destino e fá-lo chegar até mim.
Se eu deixar de respirar,
não faças mais nada.
Deixa-me apenas seguir o compasso do meu coração,
e partir aconchegada pela felicidade
que me estende a mão
para além do horizonte.


Maria Escritos

24/08/09

Escutar o vento




Escuta o vento com atenção
E escuta a percussão que dele sobressai
Concentra-te no ar
Que gira rodopiando
Em tudo, em nada
Sente o sopro
Que te roça a pele
E te leva a outros orbes
Deixa-te ir vagueando
Tocando aqui e acolá
Escuta o vento com atenção
Suspirado de mansinho
Num momento incerto
Numa hora carecida
Agarra a percussão
E espalha-a na tua pele
Deleita-te com os sonhos
Espalhados por tudo (que há em mim)
Escuta o vento com atenção
Concentra-te na sonância vibrante
E escuta a sua cantilena
Proferida na magia
De uma noite concebida
Escuta com atenção, o meu vento
Pingando da minha pele
Pois é apenas o teu nome que ele traz



Foto de Carlos Pereira (Àlbum Light&Shadow)
Maria Escritos

20/08/09

Prisioneira


Surgiste em mim
Como um jacto de frescura
Apoderaste-te de mim
Com palavras de ternura

Sonhando aqui fiquei
Presa neste meu querer
Divagando entre os teus braços
Enfeitiçada pelo teu poder

O meu coração explode
Entrevendo em pensamento
A fúria do amor
Surgida naquele momento

Foi com um beijo
Essa tua fonte de doçura
Que enfeitiçaste o meu ser
E me banhaste com a tua candura

Prisioneira me fizeste
Dentro do meu coração
Agarrada ao teu beijo
Agrilhoada com paixão



Maria Escritos

17/08/09

Em memória de ti meu irmão (10 meses)


Meu irmão,

Faz hoje dez mêses que partiste. E apesar da nostalgia sei que estás melhor agora do que quando caminhavas aqui neste plano.
Nos poucos anos que aqui andaste, nunca quiseste admitir que a tua insurreição se devia à solidão, à dor de te sentires à parte. E nessa altura nem nós te compreendíamos.

Recordo-me do menino que foste, o irmãozinho que tinha pesadelos por causa da série “Bonanza”, que não conseguia separar a realidade da fantasia. E se ao veres a fantasia de um filme, isso mexia com as tuas emoções, então era realidade; e daí vinha o teu medo.
Lembro-me dos teus gestos ternos e carinhosos com a “Nininha” e de como foste um pai para ela. A minha princesa que tanto te adora; a menina que eu deixei fosse tua também.
Vejo tantas vezes a tua vida meu irmão, e não consigo descobrir uma única imagem em que estivesses a sorrir para a vida. Apenas quando eras um garotinho e quando ainda te sentias amado, ou então já na fase adulta, quando a tua menina se abraçava a ti.

Quando ingressaste no mundo que escolheste para ti deixaste para trás toda a felicidade que te era devida. E no entanto todas as crianças se acercavam de ti para brincares com elas. E como tu gostavas disso meu irmão.

Escuto as tuas palavras meigas de quando estavas rodeado de crianças, e logo de seguida vejo o terror nos olhos das mães que olham para ti e te julgam pela aparência. O teu olhar embaciado, as feridas na tua cara era tudo que conseguiam ver. A ternura dos teus gestos com as crianças nunca ninguém ousou admitir. A doçura e a carência que aprisionaste detrás da tua vida e nunca deixaste sair.

Vejo-te dizer que a Nininha falava contigo enquanto que a mim, sua mãe, deitava apenas um olhar desconfiado.

Sinto-te a fugir dos meus afagos, deitado na cama do hospital e a ternura do teu olhar quando a menina se sentava ao teu lado e com esforço pousavas a tua mão sobre a dela.

Tenho uma carta escrita pela mão da tua menina que era para te entregar antes de partires, mas nunca ta dei meu irmão.
Um dia, quando nos encontrarmos de novo dar-te-ei pessoalmente. Sentaremos os dois a descansar na paz do Senhor rodeados de luz e então vou segurar as tuas mãos e dizer-te as palavras que nunca te disse.
Embora nem sempre o demonstrasse, eu sempre te amei meu irmão. E sempre vou amar.

Rezo por ti meu irmão. Que a paz e a luz do Senhor estejam contigo!

16/08/09

Para o meu amor


Amor,

Hoje estou tão feliz, que tinha pensado escrever tudo o que sinto de forma a partilhar contigo a Luz que me sustenta a Alma. Estou incrivelmente bem disposta pelo cansaço de uma noite mal dormida mas bem conversada contigo.
Hoje sou o mais leve dos seres pois trilho um caminho feito de nuvens, e á minha volta dançam as estrelas e brilham todas as cores do arco-íris. Contam-me segredos os seres de sonhos, e distraem-me da minha rotina as tuas carícias sussurradas ao coração. Até as fadas acompanham o meu percurso nesta minha jornada.
Queria explicar-te que és a única flor do meu jardim, pois só o teu perfume me engrandece. Não consigo traduzir o meu sorriso provocado pelas tuas juras de amor, nem sei que nome dar as cores do meu arco-íris

Eu queria que sentisses comigo o poder e a força do sentimento grandioso e magnifico que me fazes nutrir por ti.
Um facto curioso é que tanto tenho escrito, foram tantas as palavras que atirei já ao papel, e hoje dou-me conta que perante a tua beleza e bondade sinto-me pequenina e fico muda.
Soprem os anjos aos teus ouvidos o quanto te amo.


Para o meu Amor.

15/08/09

Tico e Teco


Tico e Teco (no original em inglês Chip 'n Dale) são dois esquilos, personagens fictícios de Walt Disney, que aparecem em séries de desenhos animados e quadradinhos infantis com frequência.
De acordo com a Disney, Tico é o maquinador lógico e Teco o personagem tolo.
Num olhar mais astuto, constato que o Tico e o Teco têm feito aparições dentro da minha cabeça.
Enquanto que o Tico com a sua lógica me transmite para ter os pés bem assentes na terra e que pare de bater com a minha cabeça na parede, o Teco esse eterno tolo não pára de me confundir com as suas peripécias sonhadas e sussurradas ao ouvido, que me compelem a bater cada vez com mais força.
Houve um tempo em que só o Teco me cochichava os sonhos mais incríveis contagiando-me com as suas ideias. O Teco fez-me acreditar em fadas, em gnomos, em seres fantásticos e belos e ainda em cavaleiros montados nos seus cavalos brancos salvando as donzelas por quem se apaixonam. O Teco prometeu-me que um dia eu teria o meu cavaleiro encantado percorrendo campos infinitos só para me encontrar. E foi quando o Tico se veio juntar ao Teco ralhando com ele por me atulhar a cabeça com imbecilidades.
O Tico munido do seu raciocínio obrigou-me a somar as fadas com os gnomos, multiplica-los pelos seres fantásticos e enxergar com os meus olhos que o resultado não é igual ás cores do arco-íris.
Um dia quis experimentar conhecer o mundo que há fora de mim e verifiquei que afinal o Teco tinha razão. Existem de facto pessoas maravilhosas. Seres fantásticos e belos. Gente que entrou na minha vida e partilha algo comigo. Pessoas que são minhas amigas de verdade e que não hesitam em dizer-me quando estou a fazer a figura disparatada do personagem Teco, e forçam-me a tomar uma atitude de acordo com o racional Tico.
Para evitar mais ataques exteriores e alheios á minha vontade, limito-me a registar silenciosamente aqui no meu cantinho as minhas crónicas, diárias ou não. E manifesto o meu mais profundo agradecimento a quem sacudiu o Teco por mim. Por pouco não voei para um vale ensombrado.

No entanto defendo que o Tico e o Teco têm de andar sempre juntos porque ambos têm razão. Preciso do Teco para me encantar com as suas histórias fantásticas assim como preciso do Tico para não levantar voo.

O único senão é que tenho de os hospedar gratuitamente.


Maria Escritos

14/08/09

Chuva



Há três dias que chove sem parar
Gotas salgadas caindo do olhar
Desvanecendo e toldando o contemplar

Concentra-se no regaço aspergido
Um mar de lágrimas retraído
Por causa de um espinho embutido

Fica a alma sofrida de tanto gotejar
E os sonhos destruídos pelo mal pronunciar
De alguém que não sabe o que é amar!


Maria Escritos- 2009

13/08/09

Como dizer adeus...ao adeus


È complicado escrever sobre o que sinto quando eu própria já nem sei o que sinto. È difícil descrever o adeus de uma despedida inesperada. Demasiado complicado para escrever sobre este adeus. Apenas um ponto de partida, uma nova viragem que segue na direcção do vento que sopra para uma morada incerta. Como dizer adeus ao que nunca se teve? Como partir em demanda do sonho por realizar se esse sonho se definha com o vento? Como sorrir ao adeus e abraçar nova expectativa quando os sonhos e as emoções rodopiam agitadas dentro do meu ser.
Como enfrentar o abismo do desassossego com o beijo gravado nos lábios ainda molhados, do beijo que não tive, e que em vão procurei. Como não sentir a falta de mim mesma neste adeus inevitável do meu Ser, que abraçou o frio da noite tomando como companhia longos lamentos sentindo a tua respiração no meu peito. Como descrever o adeus, quando em fantasia eu te respiro, e cada poro da minha pele precisa do teu toque. Como descrever por palavras, o quanto eu julguei amar, se nunca conseguiste ver o mundo de cores alegres e berrantes que brilham e alimentaram este amor que é só meu. Tu, que carregas o novo amanhã, és o guardião do futuro e, nos teus traços referes promessas do regresso ao beijo sôfrego por ti concebido. Como dizer adeus ao amor e sorrir de novo ao amor? Como abraçar o adeus deixando o adeus para trás extinto na própria despedida quando este adeus é um laço de ternura?
Como não te dizer adeus e esperar no seu lugar uma nova aurora, que traga um raio de sol sobre o teu olhar…

Rasgam-se os olhos com as lágrimas, ardem os dedos com que te toquei, engasgo a dor na garganta e, pergunto-me se algum dia amei. E então porque dizer adeus?
Dir-te-ei apenas que como Ser que és, deixo-te simplesmente aquele beijo tão esperado que se vai perder no sopro … e que o destino carregará de volta …se o receberes…

Tão somente, eu

Maria Escritos

Carta de amor - extracto de "As estrelas vão guiar-me"


Sábado, 1 de Outubro de 2005

Meu amor,

Encontro-me perante um dos maiores dilemas da minha vida: vejo a tua preocupação por nós e isso coloca-me numa situação difícil e até embaraçosa.

Sabes, hoje dei conta da intensidade do meu amor por ti. Pela primeira vez desde que nos conhecemos, acordei mal disposta por não ter recebido o teu beijo de boa noite…Sei que não tens culpa e compreendo que nem sempre te é possível. Mas não consigo evitar que este amor, este ressurgir para a vida que me deste, aumente a cada dia que passa.

Creio que me tens um carinho muito grande, mas também acredito, que tu, por um amor maior do que o meu, nada podes fazer. Eu sei que da maneira que te amo e com o passar do tempo acabaremos por nos magoar mutuamente, não por palavras ou gestos, apenas pela ausência…Amo-te como nunca amei ninguém e esta sim é a última vez que o digo! Preciso tanto de ti como do ar que respiro.
Eu sei que com o passar do tempo acabarei por te colocar numa situação bem mais desconfortável para ti, pois tenho tendência a querer mais e mais do teu amor, desse teu carinho, dos teus beijos, dos teus abraços, de ouvir a tua voz, de te sentir perto de mim…E tu nada podes fazer.

Enfim, já percebeste que estou a morrer de saudades e por muito que diga que devemos viver um dia de cada vez, noto que com o passar dos dias, eu em nada contribuo para a tua felicidade. E isso sim magoa-me, porque também te magoa a ti. Vejo-te triste e entristeço-me, sinto que quanto mais te amo, mais te distancias de mim. Calculo que sei os teus motivos e juro pelo amor que te tenho, que não te quero magoar nem quero o teu mal, não quero provocar-te nenhum desconforto nem tão pouco colocar-te perante um dilema. Eu deveria fazer-te feliz e com toda a minha situação apenas contribuo para a tua infelicidade. Perdoa-me!

Reli estas linhas vezes sem conta e ainda não sei se te vou enviar esta carta, mas acredita, as lágrimas escorrem-me pela cara porque te sinto infeliz neste momento, e eu nada posso fazer para o evitar. Quem me dera poder fazer brilhar um sorriso no teu rosto todos os dias.

Perdoa-me por te amar tanto!


Maria Escritos- 2005
(extracto de "As estrelas vão guiar-me)

11/08/09

Memórias


São três horas da manhã. Estou ainda acordada. Espalhei o sono porque me deixei levar mais uma vez pelas minhas cogitações. Neste percurso recapitulo tudo para não esquecer nem um detalhe, nem sequer um pormenor. Não quero esquecer, não posso esquecer, não vou esquecer.

Sorrio ao recordar aquelas noites em que me pontapeavas o ventre enquanto ia murmurando palavras doces para te acarinhar. Passava a mão sobre a minha barriga e cantava-te canções de embalar. Sempre adormeci antes de ti, porque tu, meu anjo doce, sempre que me sentias deitada, manifestavas a tua vontade, com imensos pontapés. Como te mexias! E como sorrio ainda hoje ao recordar como me batias. Parecias furiosa por eu ter de dormir enquanto ainda querias brincadeira, e desafiavas-me com os teus movimentos. Mas derrotada pelo cansaço, deixava-me embalar pelos teus pontapés. Sinto saudades desses dias.

Rememoro os dias em que escolhia a roupa que vestirias quando viesses ao mundo e experimentava imaginar o teu futuro. Sempre que tentava adivinhar a tua carita, aparecias-me como um ser celestial de tez branca como a neve, levemente rosada nas faces, e uns olhitos brilhantes. A boca? Encarnada. Como um moranguinho maduro acabado de colher. Um bebé rechonchudo e lindo por demais.
Mesmo sem teres vindo a este mundo meu amor, já te amo e, tenho vontade de te mimar. Anseio pelo dia em que te vou ter nos meus braços, sentir o calor do teu frágil corpito, tal como agora sentes o meu, e pedir-te que me embales uma e outra vez com os teus pezitos a marcar presença na minha barriga.

Deitada na cama, a meu lado, dormes profundamente e ainda hoje, contigo a dormir, sinto o teu corpo que procura o meu. Passado este tempo todo atiras-me com uma perna ou um braço, uma e outra vez repetidamente, como para te certificares que estou mesmo ali do teu lado. Então suspiras e voltas para os teus sonhos, respirando tranquilidade e dormindo profundamente.

Procuro respirar a paz que provém de ti para guardar as minhas recordações numa caixinha, algures dentro de mim. Num piscar de olhos vejo a minha entrada urgente na sala de operações, no dia em que nasceste, meu tesouro. Fiquei com medo por ver chegada a hora, antecipada pela tua pressa em nascer. Sinto uma outra vez as lágrimas que brotam dos meus olhos e me rolam pela cara, desfazendo-se na maca que me transporta para um futuro incerto. Vens cedo minha princesa, espero-te mas ainda não é a hora. Seja o que Deus quiser.
Lavada em lágrimas dirijo as minhas preces à minha mãe do Céu – a minha única companhia dessa hora – e peço-lhe que cuide de ti caso eu não possa estar contigo. Elevo meu pensamento à Virgem Maria e entrego-te aos seus cuidados.

27 de Dezembro de 1998, 21.30h. Acordo ao som de palavras que dizem que tenho uma menina linda.
-Está na hora de acordar.
Apalpo o meu corpo para me certificar que não estou a sonhar. Então dou-me conta das dores horríveis que sinto. Acordei com a sensação de que tinha sido atropelada. O corpo afundado na maca mas a cabeça a flutuar. Peço para te ver mas não me deixam. Que estas bem mas foste para a neonatologia e estas dentro de uma incubadora.
-Amanha se puderes andar, já podes vê-la!

Foram momentos angustiantes meu amor. Mas tudo valeu a pena, e de bom grado voltava a passar pelo mesmo só para te ter.
Apago a luz e forço-me a dormir. Consinto que me assole mais um flash da memória e com prazer adormeço sorrindo, embalada por uma das tuas primeiras frases completas. A minha favorita:

- Amo-te muito mamã!



Maria Escritos

Folha


Despego-me lentamente de ti
E balanço, solta no ar
Faço uma dança ondulante
Graciosa, a esvoaçar

Vou sentindo o vento
Na minha face a abalroar
Afundando-me leve e chistosa
Mas sem medo de voar

Com a dança quase no fim
E o baque como certo
Sei que apenas me soltei
Para não abraçar o teu deserto

Escolho o frio do chão
Para morada final
Em lugar de estar suspensa
Balançando no teu ramal

Livre, sigo remoinhando
Sempre ao sabor do vento
Transportando ilusões
No instante perdido no tempo


Maria Escritos

Pensamento


Para ser feliz, o meu lado real não precisa de fama, fortuna ou glória. Precisa apenas de ser preenchido com amor. Quanto ao meu lado não real… bom, esse estará sempre apaixonado….
Apregoo algo que nunca tive – o amor – e talvez nem eu saiba o que é o amor. Então escrevo-o e pinto-o das cores que eu gosto, visto-o na pele que mais me seduz, e embalo-me nesse doce sonho... antes que a vida me leve o ultimo sopro e me retire o direito de ser feliz.

09/08/09

Cidade Mágica


Naquela cidade, os sonhos vinham pelo mar em forma de ondas e chegavam sempre à tarde, na hora mágica.
Só a lua se deu conta que naquela hora mágica, ela caminhava nua pela praia e ele caminhava atordoado na areia à procura dela.
Eles amaram-se com sofreguidão. Os corpos suados, marcados pelo desejo bem perto do mar. O mar adentrou os corpos ressaltados perpetuando a sua maresia.
Amaram-se com o corpo lavado, salgado pela embriaguez do mar. E pela noite dentro foram-se amando debaixo de chuva e só o mar abria os braços para envolve-los na esperança de deixar as suas marcas.
As brumas embatiam nos corpos sôfregos que bramavam sussurros e gemidos de prazer.
Molhados pela chuva, salgados pelo mar, dois corpos se amaram, enrolados na areia e banhados pelo luar.

Naquela cidade, os sonhos vinham do mar e os seus sussurros mágicos enfeitiçavam a areia.

Mas é claro que naquela cidade era tudo bom demais para ser verdade...

A escuridão abraçava com ternura sob o pálido reflexo da lua aqueles amantes furiosos e sedentos do mar que os enfeitiçara. Após a troca de corpo, presenciaram algo que não tinham experimentado antes...o vazio profundo do mesmo mar que os acolhera em vagas intensas a maré descia lânguida e com ela trazia a realidade que se escondia dentro deles.

Ela olhou-o nos olhos com o seu olhar de felina incitando-o a repetir. Dos seus lábios brotavam ainda pequenas marcas do desejo consumado e não saciado.
A ânsia apoderava-se dela. E se ele não voltar amanhã, pensava.
Não, não pode ser. Tenho de o ter outra vez.
Ó mar salgado, que me vestes nas noites de luar, atira-me as tuas ondas e deixa-me sentir mais e mais uma vez esse teu gosto.

E nas areias batidas pelo mar como se a mão esquerda da Criação ouvisse os seus apelos o mar voltou a moldar o homem que desejava. Ela, acolheu-o em seus braços, mas antes o mar feiticeiro exigiu um pacto que selava um desígnio sobrenatural.
- Por agora deixo-vos entregues ao teu apelo, sussurrou o mar. Na próxima maré eu virei e tu me concederás o meu tributo.

Ela estremeceu de pavor, mas o desejo que sentia por aquele homem sobrepunha-se a todo o receio do que o mar lhe viesse a exigir.
Entregou-se aos braços daquele ser fenomenal, sem recear e sem questionar qual seria o tributo a pagar por mais um desejo concedido.
As bocas ávidas uniram-se numa valsa compulsiva sem fim. O corpo másculo dele fazia pressão sobre o dela, que deitada na areia se deixava embalar pela doce e suave melodia dos sussurros dele.
E num intenso espasmo de libertação os dois corpos fundiram-se como um só. A magia que emanava de tal união nessa noite frutificou. O mar que assistia sereno á comunhão sorria em ondas de espuma que os banhava em salgados beijos de ternura e expectativa.
Na madrugada o mar sussurrou á mulher saciada e disse-lhe:
- Tens em ti o fruto do amor concebido por nós e esse fruto será um ser como nunca existiu antes. Um dia quando ele estiver pronto virei reclamá-lo e tu Mulher o libertarás dos teus laços esse é o teu tributo.
A mulher concordou mas tinha outros planos...


A lua, que agora se recolhia, continuava a observá-los num tom pálido semeando pela praia uma luz esvanecida, como se atemorizasse perante a imposição do mar.
Ela, deixou a praia sem se voltar para trás. Não o podia fazer pois no seu olhar adejava um brilho, um misto de prazer e de confiança.
Esperemos para ver se assim será, pensou para com os seus botões.
Ele, agora taciturno, contemplava o seu andar descontraído pela praia. Aquele movimento de ancas que tanto o seduzia e que muito provavelmente lhe poderia tirar mais do que alguma vez lhe tinha dado.
- “Voltas á hora mágica?”- perguntou ele.
Mas ela já não ouviu. Ela só pensava no fruto que carregava dentro de si e como havia de fugir á injunção do mar.
Veremos se me roubarás o meu sonho, dizia para consigo. Veremos….
E tal como fora concebido para uma noite mágica o mar reclamou-o e nas ondas de paixão o Homem voltou a transformar-se em areia, ela voltou-se por um momento contemplando-o com um remorso de pecado original e as areias batidas pelo mar serpentearam de volta ao leito nupcial. Na cidade o despertar súbito iniciava-se dando lugar ao sol que despontava despedindo-se das cascatas de néon e luzes artificiais, expondo a urbe á sua cruel luz e que tudo revelava como uma película diáfana que encobria e iludia quem lá vivia. Ela caminhava por jardins de cimento e torres de vidro os seus passos guiaram-na á única casa que resistia ao torpor cinzento que envolvia a cidade para lá dos limites do néon ilusionista. A casa da Colina Branca acolhia-a no seu aconchego...

Na casa da Colina Branca, a feiticeira esperava por ela. Ninguém sabia a sua idade. Já lá vivia desde que a cidade era cidade e os habitantes apelidaram-na assim por ter sempre resolução para todos os males.
Diz o povo que nas noites de lua cheia ela se dedica a rituais de magia, só voltando a casa quando a lua se esconde cedendo o seu lugar ao sol.
O que é certo é que a feiticeira sabia sempre tudo e nunca negara ajuda a quem recorreu a sua sabedoria.
- Esperava a tua chegada - disse a feiticeira!
Levantou-se a abriu a porta da casa. Ela seguiu-a em silêncio.
Aisha, aceitou uma chávena de chá que a feiticeira lhe estendeu.
- Parece que estas a precisar de um banho e de repouso - disse a feiticeira.
Aisha ia começar a falar mas a feiticeira interrompeu-a.
- Agora não! – Disse num tom firme. Faz o que te digo e mais logo contas-me tudo.
Ela obedeceu. Em silêncio deixou a cozinha e dirigiu-se ao quarto que a feiticeira havia cuidadosamente preparado para ela.
Encheu a banheira com água morna e as ervas de cheiro que a velhota tinha deixado ali. Cheirou o odor que emanava da sua pele uma última vez antes de se banhar.

O cheiro nacarado que a sua pele emanava recordava-a dos breves mas intensos momentos junto ao mar. O sabor salgado ainda lhe molhava a boca e o corpo mas dentro de si sentia já o corpo a transformar-se. Quando o seu espírito começou a ausentar-se dentro da cálida água do banho de ervas caiu num profundo torpor. A infusão entrava pelos poros do seu ser e o espírito libidinoso deu lugar a um sono agitado por premonições e visões fortes...uma voz ecoava no seu ser..."Filha, tu és fruto do mesmo mar que te possuiu, sou Rhiannon tua Mãe, deixei-te a cargo da Pedra Branca e tu estás a cumprir um destino que te foi designado antes dos tempos...procura o Adamon o Guardador, terás de pronunciar o nome dele 3 vezes antes do Sol se pôr, pede-lhe um conselho e escuta-o...agora tenho de ir...o mar é o meu carcereiro e teu Pai, tal como agora foi teu amante..."
Aisha, acordou com o eco surdo das palavras sussurradas ao ouvido. Tremia sem saber se o facto se devia a água do banho ter arrefecido ou se pela revelação que lhe fora feita em sonho. Rhiannon! A mãe que ela nunca chegou a conhecer, mas á qual estava ligada com uma marca de nascença na parte de trás do pescoço. Um sinal com a forma de três luas unidas
Pedra Branca dissera-lhe que aquela era a herança de sua mãe.
Inconscientemente acariciou o pescoço como se assim pudesse mostrar á sua mãe o seu afecto.
O cansaço acudia agora ao seu corpo. Lembrou-se das palavras de sua mãe no sonho: “antes do sol se pôr…Adamon… o nome dele 3 vezes”.
Sem se dar conta caiu adormecida.
Quando acordou o sol já ia alto e a feiticeira esperava por ela na cozinha.
Em silêncio, indicou-lhe a refeição pousada em cima da mesa.
Enquanto Ela comia a feiticeira dirigiu-se a um lado da divisão e numa linguagem que Ela não compreendia e ao mesmo tempo lhe parecia familiar, entoou um cântico


A chuva começou a cair e com ela trazia um odor conhecido do mar , ela saboreava a refeição e o cântico de Pedra Branca ecoava num sussurro que contrastava com bater da chuva no telhado, e num frémito de algo que estava a acontecer, ela assomou á porta e viu um arco-iris com cores nunca antes vistas no céu...


O cheiro da terra húmida acabada de regar pela chuva entranhava-se nas suas narinas produzindo um efeito balsâmico sobre Ela. Cativada pelas as cores do arco-iris, desceu as escadas até ao jardim e debaixo da chuva deteve-se contemplando a sua magnificência.
Mãe - gritou - não me abandones por favor. Rhiannon – guia-me na minha missão.

Na soleira da porta, Pedra Branca permanecia em silencio olhando para Ela.
Ao fim de um tempo disse-lhe:
- Anda rapariga. Entra! Precisamos de falar. Temos muito que fazer antes do dia acabar.

Pedra Branca com um ar compassivo sentou-a, o incenso entranhava o ar, a ela começou a relaxar e como num transe hipnótico Pedra Branca falou:
-Tu és a única esperança, és a portadora de uma Luz única, fruto de uma união que se irá revelar importante para todos nós, o teu ventre prenhe carrega o fruto dessa esperança, tudo o que vês e tudo o que te rodeia são apenas ilusões criadas por um poder que deixou de acreditar em si mesmo, a tua Mãe é prisioneira desse mesmo poder, o único legado foi a tua concepção , serás a redenção de todos Nós, mas o caminho a percorrer será dificil e nem eu nem ninguém pode prever o desfecho, só tu poderás traçar com novas linhas o que nos espera o fardo é pesado e sem recompensa no fim, estarás ciente do teu destino?"


Ela não conseguiu responder. O cheiro intenso do incenso arreigado nas suas narinas despertou-lhe a visão, e Ela pode ver tudo o que tinha acontecido á sua mãe.

Em tempos antigos, o Cornudo, era o Confortador. Mas os homens o conheciam como o terrível Senhor das Sombras, solitário, inflexível e justo. Mas a Deusa resolveria todos os mistérios, até mesmo o mistério da morte; e assim ela viajou ao Mundo Subterrâneo. O Guardião dos Portais a desafiou...
"...Tira tuas vestes, põe de lado as tuas jóias, pois nada podes trazer contigo ao interior desta nossa terra."
Assim a Deusa despojou-se de suas vestes e de suas jóias, e foi amarrada, como todos os vivos que buscam ingressar nos domínios da Morte.
Tal era a beleza dela, que a própria Morte se ajoelhou e depositou sua espada e coroa aos seus pés... E beijou seus pés, dizendo:
"Abençoados sejam teus pés, que te trouxeram por estes caminhos. Permanece comigo, mas deixa que eu ponha minhas mãos frias sobre o teu coração.

" E ela respondeu: "Eu não te amo. Por que fazes todas as coisas que amo e nas quais me comprazo fenecerem e morrerem?"
"Senhora" – respondeu a Morte – "trata-se da idade e da fatalidade, contra as quais sou impotente. A idade, o envelhecimento, leva todas as coisas a definharem; mas, quando os homens morrem ao desfecho de seu tempo, concedo-lhes repouso, paz e força para que possam retornar. Mas tu, tu és linda. Não retornes, permanece comigo."
Mas a Deusa respondeu: "Eu não te amo.
" E então disse a Morte: "Se não recebem minhas mãos sobre seu coração, tens que te curvar ao açoite da Morte."
"É a fatalidade, melhor assim..." – ela disse e se ajoelhou. E a Morte a açoitou brandamente.

Ela, despertou do transe e chorou convulsivamente.

"Tens de partir já", disse Pedra Branca, "levarás contigo esse cristal..."e do das suas mãos surgiu um cristal ígneo com a forma de uma estrela -do-mar,"quando sentires que precisas de ajuda segura-o com ambas as mãos e chamarás o Caminhante pelo seu verdadeiro Nome, Amarië é o seu nome e o pronunciarás três vezes, e nas brumas de Cuívernnián a Estrada Sem Fim ele virá em teu auxilio, mas certifica-te de uma coisa, se o chamares só a ele deverás obedecer até ao momento em que tu própria serás senhora do teu destino, aprende e escuta com ele e nunca mas nunca te apaixones por ele.."

"Senhora falas de Adamon?"
"Sim falo mas só poderás tratá-lo assim se ele aceitar o teu pedido de ajuda, Rhiannon foi sua amante , mas tu tens no teu ventre um filho esperado e será a Luz, agora vamos preparar-te para partires em breve e explicar-te-ei tudo o que precisas de saber e para onde irás."
Ela olhou para Pedra Branca e viu nos seus olhos um brilho de ternura e amor tão grande ao ouvir o nome de Adamon e a lágrimas que caiam sobre o rosto ao tocarem no chão em pequenos cristais de sal se transformaram..."

-Senhora, porque choras? - retorquiu Ela. Acaso sabes algo que não poderás confiar-me, ou saberás os tormentos que me esperam ? Dizei-me Senhora. Todos estes anos guardaste o segredo da minha mãe, deixando-me livre para agir por minha vontade e agora eis que me é revelado não só a minha origem como também o futuro não só meu mas também dela. Que herança é esta que carrego Pedra Branca? O que está por detrás deste símbolo que trago no pescoço? Que mistério reside nele?
Com um ar de pavor Ela suplicou : Peço-vos Senhora, tende piedade de mim e revelai-me tudo o que me foi ocultado. Humildemente vos rogo que me prepareis para a jornada que tenho de enfrentar.

07/08/09

Transcendental




Conforta-me!
A tua invisível presença
Sempre constante,
Em que não te privas de esforços
Nem conheces distâncias,
Quando acolhes a minha cabeça
Em teu ombro,
E me deixas aí repousar.

Embala-me!
A ternura dos teus afagos
Alisando meus cabelos
Com teus dedos,
O suave toque dos teus lábios
Nos meus olhos cerrados.

Exulto!
De felicidade,
Quando me acolhes em teus braços
Num abraço sem fim,
Sentindo o calor do teu corpo
Colado a mim.
Confortada, acarinhada
Com a inquestionável certeza,
Da tua incorpórea presença
Sempre…
Dentro de mim!


Maria Escritos
Foto cedida gentilmente por Carlos Pereira
http://www.facebook.com/photo.php?pid=312679&id=1648423150
do álbum Light & Shadow

Versos rasgados




Foram cardos, foram prosas
Foram versos despidos
No texto da poesia
Foram flechas, foram lanças
Foram espinhos desaforados
Na doce melodia

Foram sombras, foram sonhos
Foram ilusões redobradas
Nas páginas do dia-a-dia
Foram cardos, foram prosas
Foram flechas e lanças
Foram sombras e espinhos
Nos versos rasgados
De toda a poesia.


Maria Escritos

06/08/09

Dádiva





Sinto carícias nas pequenas gotas de orvalho que deliciosamente assentam em mim.
Na lentura do toque e do espaço ocupado em minha pele despojam-se pingos de calor perfumados de maresia. Sento-me a medo numa rocha, olhando o enrolar das ondas.
E se fechar os olhos ainda vejo a linha do horizonte e nos barcos ao largo avisto as pessoas com medo de mim.
Nada têm de recear. Delicio-me com a volúpia das meiguices do relento e lanço ao mar um sermão. As nossas loucuras são as mais sensatas emoções. Tudo o que fazemos permanece na lembrança dos que sonham um dia ser como nós.
E tu, Mar, encerras-te em mil segredos que divides á noite com a Lua. Longas são as horas desta languidez que me colhe e me marca durante a contemplação da tua taciturnidade. Ergo-me e deixo-te como lembrança que o segredo da melancolia é a felicidade de estar triste.
E até tu Mar, nem sempre estás feliz…


Maria Escritos

05/08/09

Primeiro beijo


Nesse dia trocamos o “nosso” primeiro beijo. Doce, suave, terno, meigo, fugaz, tímido… Incrível como um só beijo consegue traduzir isso tudo, mas foi o que senti. Tocaste-me com a tua ternura e levaste-me ao mundo onde o sol brilha sempre. Nesse mundo não há noites, só existem dias cheios de luz, com um brilho tão intenso que enchem o meu coração com todas as cores. Foi aí que tive a certeza que te hei-de amar para sempre.

-“Estou nas nuvens!”, disseste tu mais tarde, e eu agarrada ás tuas asas estava ao teu lado. Seguraste as minhas mãos e abriste-me as portas do teu coração. Sentia-me imensamente feliz, ao ponto de pensar que ia explodir, tamanha era a minha felicidade. Mas era apenas amor, o meu amor por ti a aumentar. Um amor tão grande que julguei não caber em mim.
De um dia para outro passei a ver o mundo de uma maneira diferente, como se toda a beleza do mundo se materializasse no meu peito e fluísse entre nós.
Com passos largos caminhava sobre as nuvens...indo ao encontro de ti, meu Anjo.

Maria Escritos - 2005

04/08/09

Highest mountain




From the highest mountain
On the biggest tree
I try to find
And I try to see

Turned your back
And went way
Left me alone
And took my way

Cried out loud
Screaming your name
But lost I was
Still the same

The sky is up above
And me down below
Bleeding too much
To let it go

From the highest mountain
On the biggest tree
I look at the stars
And I know they’ll guide me


Maria Escritos- 2005

03/08/09

Eu queria ser criança





Eu queria ser criança
Para esconder-me num sorriso
E roubar uma estrela

Eu queria ser criança
Para conduzir o arco-íris
E trautear uma canção

Eu queria ser criança
E segurar-me no vento
Para tocar nas nuvens

Eu queria ser criança
Para no escuro dos meus olhos
Pintar as cores da alegria

Com a estrela fazia o céu
Do arco-íris fazia as paredes
E das nuvens fazia o meu chão

Eu queria ser criança
Agarrar nas asas e voar
Desafiando o vento
Com uma cantiga de encantar


Maria Escritos - 2009
(dedicado à minha filha, a minha princesa)

Abraço-te



Nasce no meu olhar um brilho novo.
Pulsa o meu Ser numa nova cor.
Desenvolve-se no meu peito
Uma enxurrada de amor

Procuram os meus braços
Envolver todos os seres
Enquanto dos meus lábios
Se soltam pequenos prazeres

Fica um abraço perfumado
De alegria e amizade
Entalhado na memória
Para matar a saudade

Maria Escritos

02/08/09

Desejo meu


Tua musa queria ser
Em teu coração habitar
Teus lábios em meus prender
Com meu beijo te conquistar

Em teu mundo queria entrar
Para teus sonhos refazer
Minha vida te entregar
E só a ti pertencer

No teu olhar eu queria ver
Um novo brilho despontar
Envolver-te em meu querer
E toda a vida te amar

Teu sorriso queria ver
Cada dia a aumentar
Retirar teu sofrer
E no teu peito descansar

Felicidade queria ser
E ao teu lado ficar
Com meus braços te envolver
E mil carícias te dar

O meu corpo a ti pertence
A minha Alma nasceu tua
Despojo-me do meu ser
E entrego-me a ti … nua

Maria escritos


Foto cedida gentilmente por Carlos Pereira do Álbum "Light&Shadow "

Fábula da rosa e do Humano


Era uma vez uma rosa que vivia na encosta de uma montanha. Ninguém sabe explicar porque nasceu ali aquela flor. O que é certo é que sem ninguém a ter semeado eis que ali surgiu.
A rosa não tinha ninguém por perto a não ser os velhos pinheiros e fetos que já lá estavam quando ela nasceu. Não tinha afinidade com nenhum deles, apesar de conviverem diariamente. E dia após dia a rosa conversava com os vizinhos durante o dia e, á noite limitava-se a contemplar o céu deixando-se deslumbrar pelo brilho das estrelas.
- Mas que lindas são – pensava a rosa. Se ao menos eu pudesse ter o brilho que elas têm. E suspirava resignada por ter nascido naquele terreno árido e não ter mais ninguém da sua espécie naquela encosta.
Um dia, enquanto tagarelava com os pinheiros mais velhos, escutou ao longe os passos de alguém que se aproximava.
Mas o que poderia ser? – Pensou admirada e curiosa. As plantas não emitem este som. E que barulho é este? Nunca ouvi semelhante.
Perdida nos seus pensamentos nem se apercebeu que um humano se tinha acercado dela e a contemplava, também ele admirado por ver uma flor tão pequena e singela sozinha no meio daqueles pinheiros enormes e grotescos.

- De onde surgiste tu, minha pequenina? Quem te pôs aqui? – Indagou em voz alta o humano.

Estranhando compreender a linguagem, a rosa respondeu-lhe intuitivamente que não sabia. Apenas tinha nascido ali, assim nem mais nem menos.
Ficaram a conversar durante horas a fio e na hora da despedida, o humano disse á rosa que voltaria no dia seguinte.
E assim foi dias e dias seguidos. O humano ia todos os dias conversar com a rosa. Às vezes levava-lhe agua para lhe regar as raízes e arrancava as ervas daninhas que teimavam em crescer á sua volta.
Aos dias sucederam-se os meses, e a amizade entre o humano e a rosa estava estabelecida e ia de vento em popa.
A rosa entretanto criara raízes fortes e estava muito feliz por ter um amigo que se preocupava com ela. A felicidade fez com que passasse a brilhar tanto como as estrelas.
O brilho que dela emanava, por sua vez, alterou a cor das suas pétalas de um rosa pálido para um vermelho carmim. O seu caule outrora esguio, tornara-se num caule robusto e as suas folhas verdes como tudo.
Um belo dia o humano indagou:
- Queres ser a minha rosa?
- Mas tu és de longe, como posso eu ser a tua rosa? – Retorquiu a rosa. Tu não moras aqui na montanha e eu para ser a tua rosa preciso que me regues as raízes todos os dias e me protejas das ervas daninhas. Para eu ser a tua rosa, serei tua para sempre, compreendes? Não é para quando as minhas pétalas começarem a cair, me jogares fora.
O humano fez sinal de concordância. E acrescentou:
- Estas consciente das dificuldades que surgirão entre nós?
- Sim, respondeu a rosa. A distância que nos separa é grande. Tu és um humano e eu sou uma simples rosa. Tu vives numa casa com a tua família e eu apenas tenho as minhas raízes enfiadas neste solo.
- Esta consciente então? – Insistiu o humano
- Sim, respondeu a rosa. Mas toma nota que um dia hei-de querer mais do que isso.

Os dias foram passando e a felicidade entre os dois crescia a olhos vistos. Isto não significa que o humano não fosse ferido pelos picos pela sua rosa quando se sentia magoada por ele não aparecer para conversar com ela.
Um dia a rosa perguntou-lhe:
- Escuta humano, andas a correr para cá todos os dias quando podias simplesmente tirar as minhas raízes deste pedaço de terra e plantares-me num vaso em tua casa. Assim já não terias de te sacrificar a subir a montanha e, eu já não ficaria preocupada sempre que não vens aqui porque espreitaria pela janela do teu quarto e saberia então que estavas lá, que ainda não tinhas partido.
O humano desculpou-se dizendo que a terra lá podia não ser boa. Que as raízes podiam enfraquecer por causa do sol bater todo o dia na soleira da janela. E que nunca tinha pensado no assunto.
- Promete-me que vais pensar? – Insistiu a rosa.
- Quando tiver decidido eu aviso-te – Respondeu o humano
A rosa ficou triste porque percebeu que o humano estava a ficar cansado de a ir visitar mas também não queria deixá-la á mercê daqueles velhos pinheiros.

O tempo foi passando e tudo continuou como antes. O humano não tomava nenhuma decisão e a rosa magoada com a atitude dele atirava-lhe com os seus picos.
Um dia, depois de pressionado pela rosa, o humano confessou que nunca havia pensado na sua proposta porque a rosa que ele queria para ter em sua casa teria de deitar sementes para que dela surgissem outras rosas.

A rosa chorou dias seguidos, sentindo-se traída pelo humano. Enquanto ela podia deitar sementes ele não a quis. Agora, já com as folhas desbotadas e as raízes a enfraquecerem ele dizia-lhe que ela não servia para estar junto dele.
- Mas que mundo cruel é este o dos humanos. Primeiro estabelecem uma ligação, depois destoem tudo apontando defeitos onde outrora havia virtudes.
- Entendeste tudo mal – dizia o humano. O que eu quis dizer foi que nunca pensei no assunto porque não sei como vou reagir daqui a uns anos, se a rosa que eu escolher para mim não puderem sair sementes, outras rosas. Não estava a apontar-te defeitos, apenas falava de mim. Não sei como vou reagir e pronto. Prometo um dia falar a serio contigo minha rosa e avisar-te da minha decisão.
O assunto ficou por ali mesmo e os dois continuaram como dantes. Mas tudo havia sido alterado. A desconfiança de que o humano não iria cumprir a sua promessa de tomar uma decisão apoderou-se da rosa. Então, acautelando-se a rosa mostrava-se entretida com outras coisas e aparentava não estar á espera da sua decisão. O humano por sua vez também estava menos disponível para dar atenção á rosa. E ambos diziam em uníssono: Adoro-te.
Um dia de manha a rosa gritou da montanha pelo humano.
- Bom dia – disse alegremente.
- Sim, diz – respondeu bruscamente o humano.
Embasbacada pelo tom de voz que a feriu desde as raízes até ás pétalas, a rosa apenas retorquiu:
- Bom dia, até logo.
E não lhe voltou a falar senão ate ao dia seguinte, quando já a noite mandou um recado pelo vento explicando que o seu silêncio se devia ao facto de estar magoada com ele. Nunca ele ousara falar com ela daquele jeito. Que durante o tempo todo esperou o compromisso dele e compreendendo que o seu humano jamais lhe daria a resposta prometida ela pediu-lhe que deixasse tudo no silencio para que palavras rudes não fossem proferidas.
O humano então escreveu nas nuvens que a rosa sempre tinha sido livre para encontrar outro dono.
- Mas livre como? Se eu sempre te pertenci desde o dia em que me perguntaste se eu queria ser a tua rosa? – Pensou a rosa
A rosa, então ferida no seu orgulho e atingida bem no meio do seu caule, aguçou os seus espinhos um por um. Pediu aos pinheiros que lhe atirassem umas carumas dos seus ramos e com eles construiu uma parede para que jamais alguém ouse olhar para ela.
E tanto quanto sei ainda lá está.

Moral da história:
Muitos são os que querem o perfume das rosas, mas são poucos os que as sabem cultivar



(Esta é uma historia de ficção. Qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência)



Maria Escritos- 2008

Alma


Coração que chora
Alma que dói
Pensamento tolhido
Dor que destrói

Olhar suspenso
Vazio constante
Essência perdida
Num só instante

Eco surdo
Palavras soltas
Lágrimas escorrem
Ideias ocas

Choro sufocado
Coração ferido
Saudade cravada
Rumo perdido

Mundo de sombras
Escuro infinito
Dor lancinante
Desespero num grito

Triste pesar
Longo lamento
Agonia profunda
Mente em tormento

Estrada sem fim
Destino incerto
Fardo pesado
Mundo deserto

01/08/09

A semente



A semente que cultivaste
Dentro do meu coração
Era frágil e ficou forte
Indestrutível pela mão

Sem ela não há oceano
Nem gaivotas a voar
Não há flores a crescer
Nem há noites de luar

Da semente cultivada
Veio uma estrela reluzente
Tal como o que sinto por ti
Vai brilhar eternamente


Maria Escritos

O Milagre


Durante toda a noite a Lua vigiou a Terra, sobressaltada por haver tão poucas estrelas acordadas. Este Mundo não pode ficar assim desconsolado e sozinho, pensou. As estrelas devem estar cansadas, de noite após noite, brilharem sobre o mesmo lugar sem haver quem se lembre de lhes erguer o olhar e atirar uma prece. Então a Lua, chamou a si toda a força que ainda lhe restava e ficou ali, pairando bem no alto do firmamento, iluminando as calçadas da nossa terra com os seus fluxos de luz prateada.
Durante toda a noite a Lua acarinhou a mãe Terra, que a felicitou com a tranquilidade dos oceanos e o esvoaçar das gaivotas que pipilavam de contentamento augurando um bom presságio. Durante toda a noite o canto das sereias embalou os mares e os seus seres. E a Lua, no alto da sua magnificência expulsava ainda com mais veemência as suas ondas prateadas em direcção a Terra.
Chegada a manhã, o sol encostou a lua no seu leito para que repousasse, e então tomou o seu lugar para que ninguém ficasse sem amparo. Esticou o mais que pôde os seus raios cintilantes e sobre a Terra semeou a sua luz como se de uma chuva de bênçãos se tratasse. Em cada centelha podia-se ler: Um bom dia para todos.
Alguns com medo abrigaram-se na sombra fugindo à explosão de cor que irradiava do céu. Outros nem se deram conta e seguiram o seu caminho como nada de grandioso se tivesse passado. Os pássaros e as borboletas dançavam ao redor da brisa suave que soprava arrastando consigo mil e um aromas deliciosos. As flores abriam as suas pétalas para mais um dia radioso. As árvores juntaram-se à dança dos animais e chamaram a restante fauna. As sereias, embriagadas de felicidade, deixaram o seu testemunho na areia antes de se recolherem ás profundezas do oceano. E o milagre da vida sucedia-se em catadupa, dando razão ao augúrio das aves.

Só o bicho homem não se deu conta de tal!



Maria Escritos

Rosas do meu jardim




Não são palavras soltas
atiradas à toa no vento.
São beijos e carinho sinceros
Para quem trago no pensamento.

Recolhe-as que são para ti
Pois a distância não me deixa entregar
Toda a vontade que há em mim
E que do meu coração esta a brotar

São rosas do meu jardim
que trato diariamente
e com muita ternura aqui as deixo
Para serem recolhidas por muita gente