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16/12/09

Maria Escritos no Estudio Raposa - Programa 44


Luís Gaspar resolveu criar um audioblog, em que conta, de viva voz, algumas das mais conhecidas histórias. Dos Contos Tradicionais (reunidos por Teófilo Braga) ao Romance da Raposa (de Aquilino Ribeiro), passando por Fernando Pessoa, Eugénio de Andrade ou a narrativa da Peregrinação, de Fernão Mendes Pinto. Neste blog há ainda espaço para novos autores, incluindo aqueles que ainda não chegaram às estrelas.
No Estudio Raposa, Luis Gaspar arranca as palavras do papel e verbaliza-as, soprando-lhes vida nova, fazendo-as flutuar em sonoras centelhas de luz. Recitar realiza, quebrando o silêncio, aquilo que o silêncio pretende e não consegue.

http://www.estudioraposa.com/index.php/16/12/2009/poesia-44-maria-escritos/


Ouse ouvir a voz de Luis Gaspar com poesia de Maria Escritos

01/12/09

Instintos


Deixa-me sentir-te
No desnudar da madrugada
Com murmúrios em meu rosto
Por entre raios de sol
Roçando leve na minha pele

Deixa-me sentir-te
Num serpentear enfurecido
Das ondas desfalecendo à beira-mar
Entre pingos de espuma
Abraçados a meus pés

Deixa-me sentir-te
Nas gotas perfeitas de chuva
E no cheiro da terra acabada de regar
Desabrochando as pétalas
De sensíveis labirintos

Deixa-me sentir-te
Na magia que a noite conhece
Carregada de fascinantes instintos
Na voz turva e abafada
Do ofegar da respiração

Deixa-me sentir-te
Gravar meu corpo com suor teu
Semeando carícias em meu ventre
Como gotas de orvalho
Caindo no rosto pela manhã




Maria Escritos
© Todos os direitos reservados

28/11/09

Suspiro gotas


Suspiro gotas
Entre sedas e cetim
Num bailado de cadencias distantes
Dos desejos incontidos

Suspiro gotas
Entre o roçar da pele
Sob o incenso vaporoso
Da sedução do amor

Suspiro gotas
Na dança de corpos desnudados
Entre a chama sibilante
Do aroma que paira no ar

Arrepios saem
Num ápice entre gemidos
Da inconsistência bruta
Dessa ânsia que assenta em mim

Suspiro gotas
Gemidos saem
Estremecimentos expelidos
Numa dança sem fim


Maria Escritos
Todos os direitos reservados

27/11/09

Guardo


Guardo-te sobre os dedos
No parar do tempo
Na calma com que toco a pele hoje despida

Guardo-te no olhar
Como a luz das manhãs
E a força dos dias inventados por ti

Guardo-te no instante em que me calo
E não escuto o teu silêncio
Murmurado ao meu ouvido

Guardo-te nas rugas do nosso leito
Nas ondas sedentas
Das torrentes rubras de paixão

Guardo-te nos acordes sublimes
Das notas produzidas no corpo
E das suaves melodias geradas em mim

Guardo-te na saudade ressaltada
E no suspiro dos dias de repouso
Que acarinham o vazio deixado por ti

Guardo-te no travo da minha boca
Num sabor doce que me desperta
A vontade louca de te amar


Maria escritos
Todos os Direitos Reservados

Toca-me


Toca-me!
Toca meu corpo,
Instrumento que espera
Pelo suave toque dos teus acordes

Toca-me!
Toca meu corpo,
Violino teu no timbre exacto
Suspirando notas em perfeita harmonia

Toca-me!
Toca meu corpo,
Conduz teu corpo sobre o meu
Que vibra à espera do primeiro tom

Toca-me!
Toca meu corpo,
Arranca de mim as mais belas notas
Para entoar segregadas aos teus ouvidos

Toca-me!
Toca meu corpo,
E cala a minha boca com um beijo teu
Acolhe meu corpo que tua boca recebeu

Maria Escritos
Todos os Direitos Reservados

17/11/09

Sorriso



Quero um sorriso
Coberto de orvalho fresco da manhã
E um breve aroma adocicado saltando no ar

Quero um sorriso
Com olhar calado, admirando atentamente
A cumplicidade, muda, enfeitando as alvoradas

Quero um sorriso
Numa breve alegria suspirada ao ouvido
Como uma melodia versando no infinito

Quero um sorriso
Num esgar amplo e sincero
Assim sem mais nem porquê.

Quero um sorriso
Num rosto amigo, destemido e ousado
Que se invente com o meu


Maria Escritos

09/11/09

As minhas ultimas palavras

“Há um olhar suspenso na chama tremeluzente da escuridão do quarto, que trespassa o silêncio cerrado parado no ar. Voltam as lembranças dos problemas por resolver. E tantos que eles são. Sinto-me cansada e derrotada. A insatisfação ocupa agora a minha essência, que, pesadíssima luta para se arrastar e fugir. A minha cabeça anda ás voltas e o corpo batalha para se mater erguido. Custa-me raciocinar, todos os meus pensamentos se inclinam para o mesmo lado. Será talvez o fardo que agrilhoado a mim pende sempre para esse mesmo lado.
Eu quis ser livre, ser leve, quis ter um arco-íris presente e constante, mas as sombras teimam em tirar-me os sonhos que consigo construir. Deus deu-me um anjo, e nem a esse anjo eu consigo fazer feliz. Há um buraco negro esculpido no meu ser, uma mancha talhada com mestria pela mão de quem me deu a vida. Não aguento mais este peso que me sufoca, nem este ar que respiro e me queima as entranhas. Não aguento o bater deste coração que quase me perfura o peito, em constante sobressalto.
Não aguento ter de dizer “não” tantas vezes, nem consigo olhar nos olhos da minha filha e dizer que não lhe posso dar isto ou aquilo, por causa de outro alguém.
Estou cansada da família, estou cansada do trabalho, estou cansada da vida e estou farta de tudo. Já não consigo sofrer mais nem fazer sofrer por minha causa Já não posso com o mundo às costas. Sou um nada e um nada serei. Sou uma cobarde e uma cobarde serei. Sou uma fraca e uma fraca serei. Hoje já não sou nada, e tudo de nada serei.

Deixo algumas palavras escritas dirigidas a algumas pessoas:
À minha princesa, peço-lhe que me perdoe, mas eu não consigo olhar mais a carinha dela e ver as lágrimas a escorrer pela cara abaixo de todas as vezes que não consegui estar á altura das suas necessidades.
À minha mãe, agradeço por matar os filhos em vida.
Ao meu pai, peço-lhe que cuide da minha filha.
Ao meu amor, peço-lhe que acenda uma vela por mim que me ilumine o caminho do céu.

Faz-se luz nos mistérios que jazem latentes na força que se conserva escondida e albergada no meu Ser. Eu não já consigo andar aqui pois a luz enfraquece com o ataque das sombras que habitam em mim.


Paula Moreira / Maria Escritos

05/11/09

Ternura dos 70


Dispersa num olhar amadurecido
Vai contra o tempo que lhe escapa
Num sopro envelhecido
Manchando a cabeleira branca.

Escuta as vozes do vagar
Que ao ouvido, sussurrando baixinho
Relembram que no marchar
Fica muito de seu pelo caminho.

Venham alegrias e tristezas
Galardoadas com valentia
Não te ceifa a brancura das madeixas,
escuras, como foram um dia.

Envolves ainda num abraço
Com a audácia de antes
E repartes do teu regaço
Sorrisos estonteantes.


Maria Escritos

04/11/09

Orgulho e preconceito (na 1ª pessoa)



Há poucos anos tentei suicidar-me. Foram tempos críticos e impetuosos os que vivi. Carreguei um oceano enfurecido dentro de mim; a minha razão lutava contra as minhas emoções que enraivecidas se atiravam contra as paredes do meu cérebro e me faziam entontecer, mais parecendo uma vaga a desconchavar-se nas rochas.
Há alguns anos atrás eu estava adormecida e ia perdendo a minha razão!

Recordo-me de ter acordado e de ser esmagada com a realidade; da aflição lembrada de poder ter perdido a minha filha. Recordo-me da minha vergonha perante os meus actos, e, do sentimento de culpa que carreguei agrilhoado no meu coração, tal véu que não me permitia descontrair.

Muitos foram os que se afastaram de mim chamando-me de louca, e, tantos outros foram os que me pré-conceituaram.

O terror de perder a minha filha, caso eu procurasse ajuda profissional, impediu-me de procurar o médico para me curar da minha depressão, do meu esgotamento. E ao invés disso, recolhi-me aos meus sentidos, absorvi-me na minha escuridão, e remexi nas minhas feridas.
Li tudo o que encontrei sobre os estados da Alma. Estudei imenso sobre “esta” matéria e então tomei a decisão de vomitar tudo, transcrevendo para o papel todas as razões que originaram os meus actos.

Foram tantas as páginas que escrevi que só ao fim de seis meses consegui terminar a minha catarse, que apelidei de “o meu livro”. E quando terminei senti que estava livre e a minha essência tornou-se leve.

Este meu livro que tanto me fez chorar, assim como a quem o leu, foi outrora a minha vergonha e culpa pelos erros cometidos e ali escarrapachados.

Hoje, completamente restabelecida, (embora alguns achem que não), aponto esse meu livro como um ponto de referência importantíssimo na minha vida.
Quatro anos volvidos eis-me aqui erguida perante vós, cheia de força e garra pela vida a falar abertamente sobre preconceito – o meu preconceito.

Quatro anos depois de jorrar “o meu livro” falo dele com carinho, pois foi ele que me catapultou para o lugar onde estou hoje. Exactamente por ter vomitado o meu preconceito eu não quero voltar a agir igual.

Hoje, sei onde estou e também sei quem sou. Hoje estou despertada.
Sou um ser humano cheio de virtudes e defeitos tal como todos os outros. Só que agora aprendi que não me importam as opiniões alheias. Não podem ditar a minha vida; ninguém pode corromper a minha mente, porque eu sou apenas eu e mais ninguém. Assumo a minha condição na sua totalidade.

E é com orgulho que o afirmo.


Maria Escritos

Antes de ti


Antes de amar-te, amor
Não havia nada,
Era apenas uma insignificância
Tropeçando nesta estrada.

Mas algo se alisou com as palavras
Iluminou-se com a tua figura.
Deste-me asas e floriste-me
Envolvendo-me em laços de ternura.

Ao meu lado jaz, uma luz constante
Brilhando sempre, sem parar,
È a chama do meu coração
Que despertou para te amar


Maria Escritos

03/11/09

Happy Ending



No início, era apenas uma história de amor como outra qualquer. Apaixonados e sedentos de amor, juntaram os trapinhos e viviam como marido e mulher. Para quê complicar indo casar á igreja quando bastava o amor que sentiam um pelo outro para serem felizes.

Ao fim de uns meses, ele ainda sem trabalho, começou a deixar-se ficar por casa alegando doença. Ela, já grávida de 3 meses e meio, era forçada a levantar-se cedo para ir trabalhar. Ele não arredava pé da cama, e ela sem enjoos matinais começou a enjoar aquele amor que se servia dela para as suas necessidades.

Os enjoos da relação depressa deram lugar a uma insatisfação e desilusão enorme e passaram a dormir separados. Ele dormia na cama, ela dormia no chão.

Um dia, chegada do trabalho, ela começou a preparar o jantar, como de costume. Servida a refeição, iniciaram mais um momento de diálogo surdo como vinha sendo hábito. Tocaram á porta. Era para ele. Alguém que vinha reclamar uma divida que ele havia contraído e exigia que ela lhe pagasse tostão por tostão. Resoluta avançou na direcção dele e obrigou-o a ir resolver aquela contenda ali mesmo, naquela hora. Que não se atrevesse a andar a comer do suor dela e ainda obriga-la a passar vergonhas daquele tamanho. Num impulso de raiva tirou-lhe o prato da frente e jogou a comida no caixote do lixo.
- Aqui não comes mais, disse-lhe ela.

Quinze dias de passaram, repletos de silêncio e mudez. A distância estava mais entranhada entre os dois do que se podia imaginar. Mas ela tinha um plano.
Ligou á mãe dele e convidou-a a jantar lá em casa, sim naquele mesmo dia.
Durante o jantar, contou a história toda, afirmando que não sustenta filhos dos outros. Que a pensar em filhos, pensa apenas naquele pequeno ser que começava a crescer dentro de si. Que a querer conforto, exigia o calor da sua cama de volta pois o chão é duro demais e não indicado a uma grávida. Além do mais, ele estava a dormir na cama que lhe pertencia.

Deu o jantar por terminado quando se levantou e decidida lhe foi fazer as malas para que a mãe o levasse para sua casa. A casa era sua, as decisões finais também. Ponto final. Era assim que ia devolver a ordem à sua vida. Cada macaco no seu galho.

Passaram-se os meses e a gravidez terminou num parto prematuro. Nasceu uma menina, pequenina e franzina, de cor arroxeada e cheia de penugem, características típicas dos prematuros. O factor excepcional é que a menina de 32 semanas de gestação, nasceu a respirar sozinha sem precisar de auxílio de máquinas. A vida surgia assim cheia de garra e vontade de vencer. E assim tem sido. Após o parto ele não quis ver a filha e passados dois anos teve a honestidade de dizer que não ia ver a criança porque nasceu menina e ele queria um menino… E assim tem sido ao longo de alguns anos.
Um pai que se esquece da filha, tal como se esquecia de ir trabalhar, tal como se esqueceu de muitas coisas.

A história chegou até mim como sendo um caso de amor. Ele vivia a pensar nela e procurava a sua presença até mesmo nas mais pequenas memórias ao ponto de nem se conseguir levantar. Ela, recordava com ternura todos os minutos de sossego que ele lhe conseguia dar. A criança? Vive feliz e de bem com a vida pois tem um colo onde pode chamar “lar”.



Maria Escritos

30/10/09

Estrelas no olhar




Sou mais do sentir do que do falar,
por isso dos meus olhos saem estrelas
na vez de um simples olhar.


Perante a beleza do que consigo enxergar,
faço cá dentro uma fantasia sublime
e chamo as estrelas para a abrilhantar.




Maria Escritos

29/10/09

Ciclos de vida (PESSOAS SENSIVEIS NÃO DEVEM LER ESTE TEXTO)


A vida é um ciclo composto de vários outros ciclos. O da infância, o da adolescência, o da juventude … o da alegria, o da tristeza, o da felicidade, o da dormência…enfim, vários.
Tudo tem um começo e tudo tem um fim.
Quando eu era criança e os meus pais estavam ainda casados, de entre os quatro filhos, eu fui a eleita para ser o saco de porrada da minha mãe. Por tudo e por nada presenteava-me com os “cinco mandamentos” bem abolachados na cara, isto sem contar as vezes em que cortava um pedaço de mangueira e me desfazia numa sova. Mais ingrato que tudo é que depois se vangloriava do seu feito e obrigava-me a mostrar às vizinhas as marcas deixadas no meu franzino corpo. Esse ciclo passou e seguiu-se outro quando o meu pai na véspera do meu 13º aniversário saiu de manhã para ir trabalhar e nunca mais voltou…a casa!!!
Foram anos de tormentos forçados e como desejei mais do que nunca ser aquela menina que enfrentava apenas as vergastadas da mangueira. Enfrentei bebedeiras, aturei pancada e injúrias daquela que me carregou no ventre, e a quem chamo mãe. Foi um ciclo de séculos a escutar a sua raiva vociferada contra mim, apenas e simplesmente porque me pareço com o meu pai. Tive de cuidar dos meus três irmãos, quando eu ainda precisava de quem cuidasse de mim. Muitas lágrimas verti no escuro do meu quarto desejando ter uma mãe que se risse comigo em vez de me bater. Muitas foram as lágrimas vertidas por mais um dia sem ouvir uma palavra amiga.
Fui forçada a ir trabalhar aos 13 anos para haver dinheiro em casa no fim do mês. Outro ciclo da minha vida. A desunião da família trouxe a discórdia e dos maus exemplos da mãe vieram as más escolhas dos filhos. Aos 16 anos parecia um bicho-do-mato. Nessa altura tinha medo de tudo e medo de nada. Queria fugir de tudo aquilo que desprezo mas temia que a sombra da minha mãe me perseguisse para me atormentar. Vivia apavorada vendo a sua sombra cambaleando na minha direcção pronta para me agredir. E aterrorizava-me só de imaginar o seu olhar colérico.
Um dia tive de escolher: ou me matava ou fugia de casa. Hesitei pela minha irmã mais nova, mas depois tranquilizei-me pois ela nunca foi atingida com nada. Era a protegida, a maninha caçula. Escapuli-me pelo terraço, no maior silêncio apenas com a roupa do corpo e o meu diário. Ainda não tinha dado as 8.30 e já eu atravessava a ponte sobre o rio Douro indecisa entre atirar-me dali mesmo ou continuar. Para onde ir? Fui ter com o meu pai. No mesmo dia arranjei trabalho e um quarto onde dormir. E durante alguns meses acreditei que fui feliz. Até ao dia em que os meus irmãos às escondidas me fizeram saber que a minha mãe chorava por mim. Amoleci o coração e lá voltei a casa. Começou o pesadelo outra vez. O estado normal da minha mãe era a embriaguez e o prato do dia eram os insultos e a porrada. Mudámos de casa tantas vezes que já nem me recordo de todas as paredes onde deixei gravadas as minhas dores.
Decidi, num outro ciclo, voltar aos estudos em regime pós laboral. E até isso se tornou um pesadelo para mim.
- “Gastas o dinheiro mal gasto nos estudos. Podes ganhar a vida a lavar escadas e para isso não precisas de estudos. Abre os olhos sua besta!” – dizia a minha mãe.
Tive um esgotamento como é óbvio. Em pleno ano lectivo de um curso intensivo nocturno fui-me abaixo. Deixei-me abater com o peso das palavras marteladas anos a fio. Consegui recuperar a saúde com fármacos e o ano lectivo á base de muito estudar.
Mudei-me para um quarto sozinha pois o salário não me permitia ter mais. Mas para mim chegava desde que eu tivesse paz. Muitas vezes perguntei porque me afligia e ainda aflijo com o sofrimento da minha mãe que tanto me maltratou. Muitas vezes perguntei porque nos deixou o nosso pai. Tantas e outras vezes quis ser amada em vez de espancada pelos erros de criança. Tantas vezes quis não ter nascido, não para esta vida. E no entanto, quem me fez tanto mal hoje depende de mim e eu amo-a apesar de tudo.
Estou num ciclo em que tenho sede de um afago carinhoso, e vontade de ser amada todos os dias, antes que o ciclo que comanda a vida se feche e me tire o direito de ser quem sou. E é nos mais pequenos gestos que eu busco as luzes do amor, porque de grandioso já tenho o ciclo da vida
Talvez eu não saiba amar, nem saiba o que é o amor. E se assim for, tenho de procurar saber porque me dói tanto no peito quando aqueles que me são mais queridos e chegados se esquecem de mim.

Hoje, e só por hoje, vou abraçar o vazio e mudar-me para a solidão...Procura-me amanhã ao luar por entre o gorgolejar da cachoeira... Mas por hoje deixa-me só!


Maria Escritos

Pegadas nas calçadas




Nas pedras da calçada eram visíveis as marcas das pegadas impressas sob os calhaus. À medida que as vislumbrava apercebia-me do passo incerto levado ao acaso por entre as massas da multidão. Assemelhavam-se à incerteza traçada em linhas de hesitação. Eram riscos de carvão riscados por entre as marcas de giz onde as crianças brincaram noutros dias, talvez alegres. Sombras dum andar arrastado com o calçado gasto e roto. Pegadas esbatidas, indeléveis e resistentes á chuva que cai de mansinho para não atrapalhar esse passar. Uma após outra, as pegadas surgiam arranjadas e compassadas como o ar de quem respira e dá vida ao sujeito que cambaleante ali passou indiferente aos olhares de quem se cruzava. A certa altura as pegadas param, perde-se o rasto esfumaçado por entre o grito dos aflitos que ali se cruzou. Fito o círculo deixado sobre o tapete de pedra e a sombra de quem ali se sentou entoando cantigas para enganar a fome. Escuto a invisível melodia da indigência que dança aos meus ouvidos como uma valsa compulsiva tomando como acordes todas as outras sombras que ali ficaram. É um preludio da penúria de gentes, ás vezes, do bem mas que não tem morada certa. São as pegadas da degradação que teimamos em não ver e da fome que não conseguimos sentir. Sãs as marcas deixadas pela solidão de alguém que já viveu, em tempos, num jardim repleto de sorrisos. São as pegadas que a vida não apaga, por muitas voltas que a vida dê.
Sob as pedras das calçadas jazem pegadas falecidas de gente que ali chorou, sofreu e viveu...



Maria Escritos

28/10/09

A cigarra e a formiga



Diz uma história antiga
Que uma cigarra cantava
Cri, cri, cri, fazia ela
E toda a noite assim ficava

Uma formiga a escutou
E com ela quis ir ter
Porque se a cigarra assim cantava
Alguma coisa devia querer

Meteu pés ao caminho
Por entre ervas e florinhas
E quando ao pé da cigarra chegou
Ficaram as duas caladinhas

Olharam-se bem de frente
Mirando-se, admiradas
Até que a cigarra perguntou
- Que te traz estas bandas?

A formiga respondeu:
- Foi o teu belo cantar
Que para aqui me atraiu
E fico contente por te encontrar

E diz-me :
Porque cantas toda a noite
Repetindo a mesma canção?
- É porque me sinto sozinha
E cantar afasta a solidão.

Não fiques assim, disse-lhe a formiga
Pois teu canto me enfeitiçou
Minhas pernas a ti me trouxeram
E aqui minha amizade te dou

Então deram um abraço apertado
E riram muito e baixinho
Agora cantam as duas
Toda a noite no mesmo buraquinho

E assim surgiu a historia
Da cigarra e da formiga
Que se encontram para cantar
Todos os dias á noitinha



Maria Escritos

Momento



Um olhar perdido no tempo
Suspenso no ar por um momento
Vaza a razão num segundo
Faz do vazio, um mundo

A macieza do ponto infinito
Solta a mente, liberta um grito
Amansa as correntes do pesar
Para que se possa enxergar


Maria Escritos

26/10/09

Poesia do amanhecer




Abrir os olhos
Num novo idioma
Resvalando com ternura
Para um novo aroma
Suave e delicado
Como um intenso sonhar
Sentir o corpo
Que quer amar
Olhar outra vez
E ver os olhos chorar
Gotas de orvalho
Para te bem-fadar.


Maria Escritos

25/10/09

Seres de sonhos


Na caminhada da vida
Haja audácia de sonhar
Perseverança em vencer
E não desistir de lutar

Que impere sempre
Vontade de agarrar as estrelas
Coragem de beber das nuvens
E o sol a brilhar nas janelas

Hajam seres de sonhos
Soprando hinos d’ alegria
Embalando consigo
Raios de sol a cada dia

Venham fadas e duendes
À minha boca ofertar
Pedacinhos de magia
E promessas de encantar



Maria Escritos

24/10/09

Anima mea




Eu sou a Senhora de todas as marés
Sou o Sol que te toca
Sou a chuva que te fustiga
Sou a brisa que roça de leve na tua face
Sou o vento que atiça as marés
Sou o espectro que te faz sorrir e que te faz chorar
Sou quem te faz sentir e quem te faz Amar
Sou o reflexo do que não vês mas que sempre existiu dentro de ti
Sou quem permanece quando tudo se vai

Eu sou a essência da vida que move a tua matéria
Sou aquela que não conhece o tempo mas que se move em todos os tempos
Eu sou
Simplesmente Anima



Maria Escritos

Querido diário




Hoje fui uma boa menina. Logo pela manhã levantei-me da cama sem preguiça e num piscar de olhos já estava vestida e cheirosa. Hoje surpreendi-me ao colocar uma fita no meu cabelo a condizer com o vestido. Não sei porquê, acordei alegre e com vontade de saltar, saltar, saltar até não poder mais.
Durante o dia, escutei a minha mamã dizer que no domingo vamos ter visitas. Mas que eu me lembre, não é o aniversário de ninguém cá de casa…
Enquanto a mamã andou a arrumar a casa, eu brinquei com as minhas bonecas e procurei não a atrapalhar. Já sabes como ela se zanga quando eu procuro a sua companhia para tomar chá connosco. Só de pensar parece que escuto o grito da sua voz: SAI-ME DA FRENTE!
Às vezes penso que a minha mãe não é esta. E então imagino que me trocaram no hospital quando eu nasci e é por isso que a mamã se zanga comigo, por saber que fui trocada com a sua bebé. De certo que tem saudades da sua filhinha. Mas eu também queria a minha mamã …
Sabes diário se não fosses tu e as minhas bonecas, não tinha com quem conversar nem brincar. E já que ainda hoje é terça-feira tenho de aproveitar para pular e correr o mais que puder, pois no domingo, os meus pais não me vão deixar fazer nada. Tenho de ficar quieta e calada e dizer “sim senhora” a toda a gente.
Espera, será que já estamos na Páscoa? Se assim for, querido Diário, podes pedir ao Coelhinho da Páscoa que me deixe um ovo de chocolate escondido? É que ele também nunca se lembrou de mim.
Agora vou nanar antes que a mamã se zangue outra vez.

Ah. Já me esquecia. Adorei o barulho dos passarinhos que me acordaram hoje de manhã.
Obrigada querido diário.
Até amanhã.



Maria Escritos

23/10/09

Sem sombra e sem luz



É-me impossível viver na sombra da dor
de um amor que se ama mas não se acerta.
É torturante viver afastada das tuas carícias
e da ternura que eu quis ver em ti.

Não consigo viver na dor,
porque na dor não há vida.
Não consigo viver no amor,
porque o amor não me deixou viver.
Nada fluiu, nada aconteceu, nada se edificou.
Criaram-se portas, puseram-se grilhões,
edificaram-se muralhas em volta dum sentimento nobre,
em vez de se depositarem
as sementes da esperança
num futuro certo.

Criaram-se dúvidas,
abriram-se as janelas da desconfiança mútua
no lugar de se solidificarem os laços da união.
Como esperas que siga vivendo,
quando o meu mundo, os meus sonhos,
a minha alma, a minha vida,
a luz do meu caminho, o meu porto seguro,
tudo em mim se foi contigo.

Esconjurado seja o dia
em que minha boca te alvejou
com palavras rudes,
pois o teu silêncio e a tua indiferença
marcaram-me e atingiram-me mil vezes mais
do que toda a raiva que me tivesses lançado.

Não consigo viver na sombra, nem sei viver na tua luz.


Maria Escritos

Sonho meu



A forma como aparecias atrás de mim e me envolvias num abraço, enquanto me beijavas o pescoço sempre despertou em mim uma sensação indescritível. Ainda hoje fecho os olhos e sinto o teu corpo colado ao meu. Experimento o calor que emanas e noto o prazer que te dá a minha forma de te acolher. Imagino que te recebo num abraço apaixonado, todos os dias, ate ao fim dos nossos dias. E neste sonho quero viver para sempre porque só assim sei que realmente estou viva. Não quero ser acordada deste sonho porque neste mundo as cores brilham mais, e o arco-íris está sempre presente. Juntos passeamos com os nossos filhos, por um campo coberto de mil flores de todas as cores. O sol brilha no alto do seu esplendor e o céu é sempre azul. A nossa música paira no ar. Temos como vizinhos as nuvens e uma suave brisa que teima em brincar com o cabelo dos meninos. À noite temos as nossas estrelas, que nos aconchegam para dormirmos.

Maria Escritos - 2005

22/10/09

Dias de tempestade




O dia amanheceu cheio de chuva que batia nas janelas furiosamente. Preguiçosamente saí da cama e fui abrir as persianas vislumbrando a tempestade que lá fora se abatia, dando um olhar desolado a este amanhecer.

Enquanto afastava os lençóis do meu leito de sonhos, senti-me como o vento que lá fora uivava com toda a sua força e arrasava tudo na sua passagem. Lembrei-me de ti e de toda a tua ausência ao longo destes anos de lamúria. A revolta e a dor apoderam-se de mim. Como pudeste ser capaz de me deixar? Como pudeste abandonar-me a esta dor que me devora e me consome a alma? Como te atreveste a partir sem mim deixando aqui sozinha, sonhando com a ternura dos teus beijos, sofrendo pela ausência dos teus afagos.

Trago acorrentada no meu peito, a lembrança das noites ardentes de amor, quando me tomavas nos teus braços e me possuías com tal fervor, elevando-me a um mundo de sensações fabulosas. São impressões gravadas no meu ser que me levam a buscar-te em sonhos, todos os dias, em busca da paixão que germinou em mim. É a sede dos teus beijos e das mil carícias com que me tragavas e me fazias tua é o desejo ainda latente no meu corpo, ansiando que me arranques mais um gemido ou um suspiro de prazer.
Trago o coração desenfreado, buscando em sonhos o consolo para o ardor desta paixão que herdei de ti. Este fogo que me queima as veias, este amor que respira em mim.
Cheiro os lençóis onde dormi rebuscando na lembrança, o aroma do teu cheiro que tanta falta me faz.


Lá fora cai um dilúvio bestial, que me traz de volta á realidade e me obriga a recordar. Saio para a rua e deixo-me fustigar pela chuva que me bate desenfreada no rosto e escorre pelos contornos do meu corpo. Ao meu lado surgem raios vindos do céu e trovões ecoam no ar, como se fosse uma homenagem fúnebre.
Faz hoje cinco anos que me deixaste, e o tempo acompanha o meu viver fazendo jus ao meu pesar. O tempo hoje chora comigo a tua morte.


Maria Escritos

21/10/09

Era uma vez outra história




Era uma vez outra história
Passada como tantas outras
Cheia de mistérios e segredos
Narrada no meio das moitas

Era uma vez outra história
Vivida em tempo que não sei
Duma vida que esqueci
Doutras vidas que eu cruzei

Era uma vez outra história
Com o sol e o seu encanto
Quando a menina passa
Batendo seu salto alto

Era uma vez outra história
De cortar a respiração
Quando a alma adoece
E maltrata o coração

Era uma vez outra história
Da mais velha profissão
De vender o corpo
Em troca de um quinhão.


Maria Escritos

O meu amor




O meu amor
Tem um jeito maroto
De me amar e me beijar
Que me deixa louca
E arrepia a pele
Sempre que me beija na boca

O meu amor
Tem um jeito maroto
De me arrancar arrepios
Sem manhas ou rodeios
Quando me acaricia
E me beija os seios

O meu amor
Tem um jeito maroto
De me seduzir e fazer vibrar
Quando enrola suas pernas nas minhas
Acariciando meu corpo
Percorrendo minhas linhas

O meu amor
Tem um jeito só seu
De me fazer estremecer
Quando me prende no leito
Quando sorve meu peito
E me ama sem jeito


Maria Escritos

20/10/09

Louca paixão


Tua língua me devora
Num beijo divinal
Rodopiando humedecida
Buscando prazer carnal

Estremeço de prazer
Nesse teu beijo atrevido
Percorrendo o meu corpo
Gemido de mim sorvido

Desfaleço nos sentidos
Percorridos pela tua boca
Emanando pulsações
Fazendo de mim louca


Maria Escritos

Sei-te de cor


Sei de cor
Cada traço da tua pele
Cada sabor expelido
Nos espasmos enfurecidos
Das noites ardentes de amor
Sinto
A chama que irradia em ti
Quando encostas
Teu corpo no meu
E me acaricias lentamente
Grito
Gemidos loucos de prazer
Nessa dança compulsiva
Com que me possuis
E te deitas sobre mim
Abraço teu corpo
Absorvendo do suor escorrido
Na fúria do desejo
Saciado em catadupa
Entre jorros de prazer


Maria Escritos

19/10/09

Deitados ao luar


Deitados na areia
À luz do luar
Dois corpos se amaram
Salgados pelo mar

Entre beijos e carícias
Abraçados pelo mar
Toda a noite ali ficaram
Com vontade de se amar

A vontade era louca
O desejo uma constante
Pulsando com exultação
Numa explosão vibrante

O mar os acolheu
Entre gemidos e sussurros
Num chocar de corpos
Suados, exaustos e desnudos

Maria Escritos

Tu... que não sabes quem és!


Tu, que te dizes meu amigo
Mas que me abandonas no teu silêncio
Cheio de enigmas inimagináveis
Tu, que carregas a dúvida incerta
Acusando veramente
A casualidade do acaso
Em palavras sem escrúpulos
Não te enganes a ti mesmo
Com certas insinuações
Não escutadas pelo teu Ser
Não te iludas com lances
Cortados às escondidas
Não retalhes nem trucides
Quem de ti fez o seu ombro
Não traias a Amizade
Com enganadoras atitudes
Forjadas por mão alheia
Tu, que não sabes quem és
Levanta-te
Acha-te a ti mesmo
Nos confins da Glória
(Marca com longas linhas
A corrente do Bem)


Maria Escritos

18/10/09

Alma do sentir



Quando eu não mais puder sonhar
Nem dar asas ao pensamento,
Terás feito de mim
Tua prisioneira,
Ou talvez
Tu, Morte
Me abraces, simplesmente
Com o teu toque regelado
E me conserves assim
Para sempre.
Mas até lá,
Ainda posso viver de sonhos
amordaçados na garganta,
E, mesmo com as correntes
Com que me prendes
E tentas chamar a ti,
Ainda consigo voar...

17/10/09

Se eu hoje disser...


Se eu hoje disser
Que tenho vontade de chorar
Deixa-me verter estas lágrimas
Salgadas como o mar
Que me escorrem pela face
Luzindo ao luar
Que nascem nos meus olhos
E morrem no meu beijar


Maria Escritos

16/10/09

Esta noite, aborvo-me em mim


Esta noite eu não vou deixar morrer em mim a saudade cravada nos dias sorridentes dum passado, nem vou permitir que a distância do diálogo e a confusão da solidão apague o sorriso que há em mim. Esta noite, desabarei palavras sobre o papel para não matar a lembrança das alegrias sonhadas num eco surdo atordoante. E sorrindo ou chorando, escreverei a nostalgia dos sonhos vividos, com a alma, na esperança da sorte se abater sobre mim. Imprimirei o júbilo com que os nossos caminhos se cruzaram, esquecerei as mágoas das feridas abertas e esculpidas em mim. Procurarei a senda da aventura em cada linha escrita, descrita com as talhas da melancolia no dia-a-dia passado. Esta noite, não vou esquecer que, sôfrega, sorvo do amor, nem a feição onde talhei este amor. Não voltarei as costas á fonte que me dá vida e me sustem erguida. Esta noite, construirei um sonho, baseado em palavras ansiosas por partirem e pela noite dentro me acharem. Devorarei cada detalhe do olhar dependurado na tristeza, olhando lá ao longe o vazio da ilusão criada. Esta noite, sentirei o fardo apetecível e voluptuoso do amor.
Esta noite não termina assim, porque eu preciso dizer que te amo, e gritar bem alto para todo o mundo ouvir com que traço se reveste o meu amor…

Esta noite … a minha narrativa começa assim! Esta noite, absorvo-me em mim



Pintura de MANU GRAÇA
Texto de Maria Escritos

12/10/09

Fragância de mim




Mal abri os olhos a música parou de tocar, o vento deixou de acariciar meu rosto e, os sonhos fecharam suas portas deixando-me cá fora sozinha. Deixem-me erguer montanhas, erigir muros e construir castelos.
Deixem-me escutar, o barulho dos passos, gravados ainda na lembrança, de todas as vezes que vieste, ou quando partiste desta ilusão. Quero fechar os olhos e sentir cá dentro todas as cores da alegria, e beber dos risos libertados naqueles dias em que apenas sonhava amar. Tapo os ouvidos para que o eco inebriante das vozes melosas da paixão, não fuja de mim.

Olho, para a recordação e sinto a leveza das aves voando alegremente ao som de uma valsa inaudível. Vejo com exactidão, cada detalhe da fragrância perfumada que fica espalhada sobre o leito onde descansas, encolhido, deitado a meu lado.

Abate-se sobre mim o peso das memórias, que uns dias me fazem leve e noutros me fazem cair tropeçando, desastrada, em todas as reflexões não vividas.
Podia ser uma fada ou uma princesa, podia ser uma dama e pertencer á nobreza. Podia enfeitar o cabelo com flores e dançar abertamente saltitando sobre as pedras dum riacho.
Podia inventar melodias graciosas e aprender a falar com os animais. Podia ser uma sereia, habitar nas profundezas do mar e nadar espontaneamente percorrendo os mistérios das correntes marítimas. Podia até, contar as estrelas-do-mar…
Mas todos os papéis me parecem difíceis e então escolho descer á terra e, ser apenas quem sou e viver assim embrenhada no meu ser.

Deixem-me ver o sol radioso que se abate sobre o perfume das rosas e, que embriaga as borboletas fazendo-as dançar soltas no ar. Deixem-me viver... deixem-me ser livre...deixem-me sonhar.
Porque tudo são apenas linhas de sonhos inventados na memória, meras fitas com que me amarro a um querer, luz dos olhos sem brilho que não ficam alegres jamais, porque o esplendor permanece apenas nas estrelas que acendem o céu… e o céu está tão longe…





Maria Escritos

07/10/09

Maternidade



Os sonhos que em mim pintei
Desbotados pela tristeza
Deixei-os soltos ao vento
E concentrei-me na certeza

De contos em mim talhados
Nas linhas das histórias entoadas
segregadas com ternura
em horas não realizadas

Carinho de mãe não sei
o que foi ter ou receber
Amor de mãe eu sei
que tenho muito para oferecer.


Foto e poema de Maria Escritos

Laços



Por vezes
É na dor que nos trespassa
E nos retalha em mil pedaços,
Que nos juntamos com o Amor.
Quando surgem novas cores
Adornando o teu sofrer,
E quando percebes
Que as tuas lágrimas
São perfumadas
E não caem mais sozinhas,
Saibas então
Que alguém te ampara
No seu Amor.

Quando sentires
O perfume adocicado
Ofertado por mão alheia
Que alisa a dor de mansinho
E te dá um novo horizonte
Num arco-íris de mil cores
Quando nos teus dias
Houver apenas sorrisos
Saibas então
Que estás perante
Aroma da Amizade
Que é esposa do Amor

Maria Escritos


Foto de Nuno Freire (TODOS OS DIREITOS RESERVADOS)
http://olhares.aeiou.pt/hands_on_approach_foto711447.html

03/10/09

Às vezes...Com Amor



Às vezes
È nos pequenos gestos
Que vemos grandes actos
De Amor
È no meio dum desespero
Que achamos o rumo
Desaparecido no tempo

Às vezes
É através de simples palavras
Que nos é dado o maior valor
Do Amor
É nos gestos mais banais
Que enxergamos significados
Grandiosos, repletos de luz

Às vezes
É no meio do silêncio
Que a vida se aproxima de nós
Com Amor
É no instante cravado de mansinho
Na memoria de um ser
Que se gera a conivência

Às vezes
É no tempo que se perde
O tempo de ter e dar
O Amor
È nos dias perdidos no tempo
Que se estupram os sentidos
E todas as grandezas que a vida nos dá

Às vezes
É sonhando acordados
Com o tempo cedido ao tempo
Do Amor
Que passamos a esconder
Os atalhos dos dias conturbados
Do vazio que mora em nós.

Às vezes
É tudo tão simples e tão óbvio
Mas preferimos complicar
O Amor
È tão simples viver e ser livre
Ser feliz e sermos leves
Com o tempo que a vida nos dá.

Às vezes
Há quem acorde e enxergue
Que tudo mora em nós.
Com Amor
E basta somente abrir o coração
E libertar o brilho
Que resplandece abafado

Às vezes...
Temos simplesmente
A certeza absoluta
No Amor
E que nada acontece por acaso
Em todo o tempo dum instante
Que a vida nos dá …
Com Amor!


Foto de Cristina Meneses Alves , do álbum "Macros" ( Todos os direitos reservados)

Poema de Maria escritos

02/10/09

Gotas aspergidas




Já não sei escrever poesia
Talhada em noites de lua cheia
Quando banhavas os meus sentidos
E os dispersavas na areia

Debaixo de olhares acesos
Ou das luzes que vêm do céu
Fico esculpindo carpidos
Ocultados por este meu véu

Deito gotas arroxeadas
Impregnadas de nostalgia
Aspergida nas montanhas
Onde viveu a alegria


Foto de Cristina Meneses Alves (todos os direitos reservados)
Poema de Maria Escritos

01/10/09

São três horas da manhã



São três horas da manhã. Estou ainda acordada. Espalhei o sono porque me deixei levar mais uma vez pelas minhas cogitações. Neste percurso recapitulo tudo para não esquecer nem um detalhe, nem sequer um pormenor. Não quero esquecer, não posso esquecer, não vou esquecer.

Sorrio ao recordar aquelas noites em que me pontapeavas o ventre enquanto ia murmurando palavras doces para te acarinhar. Passava a mão sobre a minha barriga e cantava-te canções de embalar. Sempre adormeci antes de ti, porque tu, meu anjo doce, sempre que me sentias deitada, manifestavas a tua vontade, com imensos pontapés. Como te mexias! E como sorrio ainda hoje ao recordar como me batias. Parecias furiosa por eu ter de dormir enquanto ainda querias brincadeira, e desafiavas-me com os teus movimentos. Mas derrotada pelo cansaço, deixava-me embalar pelos teus pontapés. Sinto saudades desses dias.

Rememoro os dias em que escolhia a roupa que vestirias quando viesses ao mundo e experimentava imaginar o teu futuro. Sempre que tentava adivinhar a tua carita, aparecias-me como um ser celestial de tez branca como a neve, levemente rosada nas faces, e uns olhitos brilhantes. A boca? Encarnada. Como um moranguinho maduro acabado de colher. Um bebé rechonchudo e lindo por demais.
Mesmo sem teres vindo a este mundo meu amor, já te amo e, tenho vontade de te mimar. Anseio pelo dia em que te vou ter nos meus braços, sentir o calor do teu frágil corpito, tal como agora sentes o meu, e pedir-te que me embales uma e outra vez com os teus pezitos a marcar presença na minha barriga.

Deitada na cama, a meu lado, dormes profundamente e ainda hoje, contigo a dormir, sinto o teu corpo que procura o meu. Passado este tempo todo atiras-me com uma perna ou um braço, uma e outra vez repetidamente, como para te certificares que estou mesmo ali do teu lado. Então suspiras e voltas para os teus sonhos, respirando tranquilidade e dormindo profundamente.

Procuro respirar a paz que provém de ti para guardar as minhas recordações numa caixinha, algures dentro de mim. Num piscar de olhos vejo a minha entrada urgente na sala de operações, no dia em que nasceste, meu tesouro. Fiquei com medo por ver chegada a hora, antecipada pela tua pressa em nascer. Sinto uma outra vez as lágrimas que brotam dos meus olhos e me rolam pela cara, desfazendo-se na maca que me transporta para um futuro incerto. Vens cedo minha princesa, espero-te mas ainda não é a hora. Seja o que Deus quiser.
Lavada em lágrimas dirijo as minhas preces à minha mãe do Céu – a minha única companhia dessa hora – e peço-lhe que cuide de ti caso eu não possa estar contigo. Elevo meu pensamento à Virgem Maria e entrego-te aos seus cuidados.

27 de Dezembro de 1998, 21.30h. Acordo ao som de palavras que dizem que tenho uma menina linda.
-Está na hora de acordar.
Apalpo o meu corpo para me certificar que não estou a sonhar. Então dou-me conta das dores horríveis que sinto. Acordei com a sensação de que tinha sido atropelada. O corpo afundado na maca mas a cabeça a flutuar. Peço para te ver mas não me deixam. Que estas bem mas foste para a neonatologia e estas dentro de uma incubadora.
-Amanha se puderes andar, já podes vê-la!

Foram momentos angustiantes meu amor. Mas tudo valeu a pena, e de bom grado voltava a passar pelo mesmo só para te ter.
Apago a luz e forço-me a dormir. Consinto que me assole mais um flash da memória e com prazer adormeço sorrindo, embalada por uma das tuas primeiras frases completas. A minha favorita:

- Amo-te muito mamã!

30/09/09

Dual-Idade





Desde que me apercebi que existo, tudo na minha vida tem sido sentido com o coração e a Alma. Os meus textos publicados aqui apenas deixam transparecer, (penso), um pouco dos meus estados de Alma, e o turbilhão de emoções que há em mim.
Há músicas que mexem comigo e me transportam a um mundo de beleza inigualável, assim como há outras que nada me dizem.
Há livros que leio sofregamente pela adrenalina que fazem correr nas minhas veias, tal como há outros que só de olhar eu deixo de lado.
Há situações na vida que me fazem voar, assim como existem outras que me atiram ao chão.
Dei conta, demasiado tarde, que na minha vida tudo se move pelas emoções, e talvez tenha desperdiçado alguns anos da minha passagem por aqui, pela falta de conhecimento; pelo menos de conhecimento base.
Hoje reconheço que andava em conflito comigo pela “dual-idade” que há em mim.
Sou uma Alma velha num corpo ainda jovem. Sou portadora de uma sabedoria da qual ainda não tenho consciência absoluta. Através de sinais externos, há pequenas reminiscências que me assolam a mente e fazem-me entender o porquê de eu sempre ter achado que nasci na época errada. Mas nada existe ao acaso, não há coincidências e o Divino escreve sempre certo por linhas travessas. Já vou conseguindo entender que em mim, a minha Anima esta cada vez mais presente, e sua base é uma lei Maior onde impera a boa vontade e a simples aceitação da minha existência nesta vida, com todas as reticências, pontos de exclamação, virgulas e acentos, que isso implica.
Através da escrita vejo para além de mim, e transmito por palavras as ondas dos sentimentos que me regem. Asseguro-me de os passar a todos, sem excepção, sejam os bons ou os menos bons; em suma, positivos ou negativos. Em todos os meus escritos procuro partilhar algo. Nos contos de seres de sonhos e princesas encantadas partilho um pouco da felicidade que me é dada. Nos sentimentos negativos procurem ver as minhas falhas, tal como eu, pois escrevê-las e publicá-las é uma forma de assumir os meus erros e a minha simples condição humana. É uma forma de auto-descoberta de toda a existência e sabedoria da minha Alma, essa caminhante que já percorreu muitos tempos.
Deixem o corpo estatelar-se no chão para o ver erguer de novo, contudo reparem bem onde eu escorrego e me estampo e evitem pisar o mesmo caminho. Permitam que a minha Anima floresça cada vez que cai, mas não sigam as minhas pegadas desnorteadas.
Eu sou um ser e sou também um não-ser; sou um ser que caminha em direcção á Luz, e sou um não-ser albergado em mim habitando na minha sombra.
Sou a alegria e sou a tristeza, sou a felicidade e sou a infelicidade, sou o sucesso e o fracasso, sou a dor e o Amor… chamo-me : VIDA!
Por favor, deixem-me passar.


Maria Escritos

Eu, Maria Escritos, aprendi




Eu aprendi que amar a pessoa errada é certo, e perdoa-la pela sua estupidez também é certo. Aprendi ainda que cada um pode escolher o que semear mas é obrigado a colher o que plantou. Eu aprendi a amar com todas as forças, a perdoar sem olhar para trás e sem hesitação, e ainda a deixar partir quem nos fere e nos magoa e nos espezinha anos a fio. Eu aprendi que é preciso ensinar a amar ainda que tenhas de subir escarpas montanhosas para mostrar o que é o amor. Eu aprendi que dia, nasce um de cada vez e nesse dia há vida. Eu aprendi que viver é amar, é perdoar, é chorar, sofrer, é rir, é desesperar, é ver as pessoas partir e é envelhecer… Eu aprendi que a vida é simples demais e as desculpas dos actos não cometidos são meros actos ilusórios para enganar-mos a nós e não aos outros. Eu aprendi, que ser feliz é saber que a vida é feita de muita coisa e que tudo o que vivo no hoje é a sinfonia que compõe a minha vida. Eu aprendi que por vezes a orquestra que comanda vida fica cansada e é preciso dar um descanso. Eu aprendi que eu sou do tamanho que sinto e não do tamanho com que me enxergam. Eu aprendi e vou continuar a aprender, e vou continuar a amar pois sem amor em mim, eu não sou eu. Sem o perdão eu não me completo, sem o sofrimento eu não sou nada e sem um sorriso eu não brilho no escuro. Eu aprendi que a vida é demasiado valiosa para ser desperdiçada com ódio. Eu aprendi que a vida é demasiado curta para todo o conhecimento que só a vida nos pode dar e aprendi que Amigos são presentes da vida … e por isso preciso viver e dar á vida tanto quanto ela me dá a mim. Eu aprendi a AMAR sem barreiras, e a dar pedacinhos de mim… á vida fora de mim.

Eu aprendi a errar e a reconhecer os meus erros!

Eu aprendo a viver a cada dia que passa , com as armas que a vida me oferece.

Hoje publico esta foto com as minhas palavras do que eu aprendi, precisamente porque quem cá está exigiu que a foto fosse retirada... mas eu aprendi e quero partilhar o que aprendi... que não é por apagar a foto que se altera o passado. O que altera é o que nós conseguimos aprender e a capacidade que temos de o saber usar. Eu aprendi a amar, a perdoar, e a deixar partir... aprendi a ser indiferente ao odio que têm por mim depois de ensinar o que é o amor... com que se pinta a vida.



Maria Escritos

28/09/09

Coisas simples - O que eu sei que quero




Eu não consigo sentir, apenas,
este sentimento que me roça a pele
bem de mansinho,
Que me agasalha nas noites de vazio
numa suave carícia envolvente
que me conforta nos dias de chuva
protegendo-me das gotas pesadas
que me apazigua em dias de tempestade
ecoando no meu ser

Então eu luto e procuro no meio do coração
Tudo o que sei que quero

Quero a delícia de sentir as coisas mais simples
Quero tão-somente viver
Quero simplesmente amar


Maria Escritos

23/09/09

Se eu pudesse...



eu pudesse agarrar
No teu olhar com as minhas mãos,
Havia de leva-lo aos meus lábios
E beijar-te até envelhecer.

Se eu pudesse prender
O teu sorriso, com o meu olhar,
Havia de guarda-lo
Juntinho do meu coração
Para ele não desaparecer.

Mas o olhar não se agarra
E o sorriso não se prende,
Contudo, no fundo do coração
Está tudo que a vontade pretende.

Então beijo-te na face
Apenas com um beijo
Embora em ti
Habite um outro desejo


Maria Escritos

22/09/09

Diário de uma Trenga




Com o passar destes três anos sempre falámos, mas não comunicámos. Perdemos tempo com coisas banais tipo conversa da treta e nunca transmitimos o que queremos para o nosso futuro. Não nos demos a conhecer. Em suma, embora tu soubesses o que eu pretendo, nunca deste a demonstrar que pretendias o mesmo. Chego a perguntar porque caminhaste ao meu lado sem nunca te abrires comigo.
Dizes que és um solitário, ok tudo bem! Mas num relacionamento tem de haver diálogo, e nós não tivemos. Sabes amor, eu vejo os dias a passar e nada cresce, nada se concretiza. Apenas o vazio contrabalança com o amor que sinto por ti.
Falas-me dos teus sobrinhos; que vais aqui e acolá com eles enquanto eu aqui penso porque não falas do que queres, não falas dos teus sonhos por realizar e das conquistas que ainda queres fazer. Vejo passar o tempo, que tantas vezes pediste, e a tua ideia de comprar casa há três anos e nunca o fizeste até hoje. Relembro as minhas condições impostas em Janeiro deste ano e nestes meses todos, ainda não fizeste nada para tentar cumprir uma delas. Nem voltaste a falar sobre o assunto. O teu tempo e o teu silêncio foram a causa do meu vazio e da minha tristeza. Chego a pensar por vezes que é melhor não te amar do que continuar assim. Mas aí o meu peito aperta tanto que julgo sufocar com a dor imaginária de não te ter.
Respiro-te, e cada poro da minha pele precisa do teu toque. Se eu conseguisse descrever por palavras o quanto te amo, poderias ver o mundo de cores alegres e berrantes que brilham e alimentam este amor por ti. Mas ao mesmo tempo, o teu silêncio e relutância em falar sobre nós, turvam esse mundo onde apenas eu vivo esse amor por ti.
Apaixonei-me pela tua figura e pelo pouco que me mostraste de ti. Vi-te com o coração e não com os olhos, aliás o que os meus olhos viram foi iludido pelo vazio que por sua vez originou o ciúme do tempo que dedicas aos teus amigos.
Sinto-me só, a precisar de ti para me animar e há sempre alguma coisa do teu lado que te afasta de mim. Expludo e discuto contigo porque te amo com todas as forças do meu ser e em três anos e meio não tenho nada de teu; nada de concreto. Apenas palavras com promessas e promessas por realizar.
Criámos um círculo vicioso entre nós e fomos tecendo teias que nos levaram a este ponto. Ao ponto de termos medo de nos abrirmos um com o outro e nem nos apercebemos que nos estávamos a destruir.
Sempre julguei que tinhas vergonha de mim. Manteres-me á distância, num silêncio absoluto, quase em segredo, era como se eu fosse uma sombra na tua vida.
O facto da tua amiga especial ter passado na minha vida foi um erro pois apercebi-me que te abriste com ela e nunca o fizeste comigo. Aliás, sei que te abriste com os teus amigos e nunca foste capaz de o fazer comigo. No entanto admito e reconheço que por vezes é muito mais fácil falar com os outros mas e sobre o nosso nós, o nosso EU? Quem deveria falar? Nós ou os outros?
Admito e sei que posso perecer-te complicada com esta coisa da “EU” e “ALMA” , mas acredito plenamente que eu sou duas: Matéria e essência.
Este eu aqui é a minha essência que sente, é ela que tem vindo a sofrer e muito sempre que te voltas ao silêncio e me recusas as respostas.
Sempre que preciso de um carinho teu e não o tenho , sempre que te digo que tenho saudades tuas e não me respondes, sinto-me infeliz por te amar e infeliz por não te ter.
E na verdade nunca senti que te “tinha” porque nunca houve diálogo e facilidade de comunicação sobre nós. E sempre fizeste de tudo para me afastar de ti. E irás continuar a afastar até nem a amizade restar.
Muitas vezes quis falar ao teu coração, até que descobri que nem sabes onde ele fica.
E eu, esperando por ti, fiquei sentada a chorar vendo apenas o tempo passar.


Maria Escritos in "Diário de uma Trenga"

Diário de uma Trenga





Meu amor,

Quando nos conhecemos, eu estava numa fase muito difícil. Estava emocionalmente desequilibrada e com a nossa conversa e o meu desabafo escrito sobre o que aconteceu comigo, de certa forma ajudou-me a recuperar o meu “eu”. Sempre pensei que tivesses ficado a conhecer uma parte de mim que eu mais prezo: os meus sentimentos com a sinceridade e pureza dos mesmos, e afirmo-o assim porque eu SINTO e não procuro saber porque sinto. È a minha sensibilidade e intuição que me leva a sentir e a não questionar porque sinto.
Eu não quero ter de passar a vida a questionar a razão das coisas, quero deixa-las fluir e nisto ainda ando em aprendizagem… um dia sei que chegarei lá. Deixei fluir o nosso tempo o melhor que pude e com as emoções que em mim provocaste. Esse sentimento engrandeceu em mim e neste momento admito que preciso tanto de ti como do ar para respirar; contudo aprendi que quando se ama verdadeiramente, não se pode aprisionar ninguém.
Durante anos entreguei-me e dediquei-me a ti o melhor que sei fazer, e julguei estar a caminhar para um futuro certo. No entanto a tua decisão de adiar, e sempre adiar, por medo das minhas discussões, levou-nos a um vazio. Ou seja, eu amo-te e sei que na convivência do dia-a-dia aprenderíamos a “estar” em sintonia um com o outro. Saberia que todos os dias ao regressar a casa TU estarias lá para me abraçar… e isso é o que eu mais queria ter de concreto para anular o meu vazio. Creio que me amas, mas não tenho a certeza, e não me julgues mal…. Ao dizer isto estou a ser sincera, porque quando se tem medo não se sente mais nada a não ser esse “medo” que ilude tudo o resto e nos faz acreditar no que não é e a ver o que não há, entendes?
Deixa-me explicar que o facto de eu nunca ter conhecido ninguém da tua família contribuiu grandemente para esse vazio e a distancia entre nós sempre foi como uma estaca cravada no meu peito. O nunca me teres convidado para ir passar um fim-de-semana contigo aí, nem que fosse em Lisboa… isso fez-me sentir sempre como que posta de lado na tua vida…. O não saber de nada nem poder tomar parte de nada, era como se eu fosse uma sombra na tua vida. Enquanto o meu amor por ti crescia, a sombra aumentava. Disseste que já podias prever quando eu ia ter discussões contigo, e eu pergunto porque nunca as evitaste? Porque deixaste acontecer? Porque nunca te abriste comigo? Repara que eu de ti nada mais sei do que o teu nome, o teu endereço, o nome e morada do teu trabalho e o nome dos membros da tua família…. Quanto ao resto, ao dares-te a conhecer, nunca o fizeste. De mim, sabes os podres todos. Não te escondi nunca nada.
Como te disse ontem, nunca namorámos verdadeiramente e as conversas do dia-a-dia foram ficando mais banais contribuindo para aumentar o vazio. A falta de evolução, até na nossa conversa, fez-nos estagnar na relação… nem só de amor vive o homem! Há que saber cultivar o amor e sobretudo conserva-lo. E aqui falhámos os dois. Eu deveria ter tido coragem de te dizer que me estava a sentir vazia e que carregava apenas o peso do amor que sinto por ti e que estava a ficar cansada, em vez de discutir contigo.
Acho que agi assim contigo porque acreditei piamente no teu amor e ia sempre dizendo para mim que és assim mesmo… mas a dada altura eu pergunto-me: porque pode ele ser assim e eu não posso ser “eu”? Porque tenho de ser eu a aceitar tudo e ele não pode aceitar-me também como eu sou na verdade? E muitas vezes antes da catástrofe acontecer tu não me ouviste e por isso explodi…
Quero dizer com isto que ao mesmo tempo que aumentava o meu amor por ti, aumentavam também as minhas dúvidas, que nunca tive coragem de falar contigo, porque sempre que começava uma conversa ou pelo menos julgava que estava a tentar começar, tu evadias-te de respostas concretas e objectivas o que me magoava e muito… fui-me magoando demais e amando demais. Cheguei à conclusão que te amo sem te conhecer e nem sei porque te amo: mas basta-me amar-te.
Gostava que tivéssemos um final feliz e queria ter a possibilidade de construir a minha realidade com base no sonho que um dia tive: estar e ficar ao teu lado para sempre.
Queria ter em ti aquela pessoa que me escuta e me entende sem me julgar nem se magoar pelo que escrevo ou publico. Aquele que sabe que vivo só para ele e por ele… Queria amar-te sem ter de pedir desculpa nem sentir-me culpada por te amar. E quero sem duvida alguma ser amada na mesma proporção e medida. Quero poder falar sobre o que eu sinto sem ficar com peso na consciência sobre se te vou magoar ou não, queria que confiasses mais em mim para eu poder abrir a minha alma sem receio. Queria que fizesses o mesmo comigo, pois só assim estaremos a construir solidamente a nossa relação e a lutar para realizar algo que se tenha sonhado. Eu queria sonhar o mesmo sonho que tu. Deixas-me?
Deixa-me crescer como pessoa ao teu lado e cresce comigo também … é o que te peço.


Maria Escritos, in "Diário de uma Trenga"

21/09/09

Pedaços do céu




Tu falas de música, mas não escutas a melodia que há em mim
Falas de filmes, mas não vês o filme no qual somos protagonistas
Falas de viagens, mas não vês a viagem que eu queria fazer
Falas de brincadeiras, mas não vês que não me deixas brincar contigo
Tu falas em tempo, mas dás-me uma eternidade de vazio
Tu falas que queres rir, mas a mim fazes-me chorar
Tu falas em amor, mas a mim não sabes amar
E então eu digo que me desculpes, mas nesse teu tempo
eu não tenho lugar para brincar porque eu estou levando a vida a sério.
Com a minha música, os meus filmes, as minhas viagens imaginárias, os meus risos, as minhas lágrimas, o meu amor…
E se eu não tiver tempo nenhum para brincar contigo, me desculpe, mas eu estou levando minha vida muito a sério colhendo pedaços do céu para me enfeitar.


Maria Escritos

18/09/09

Procura-me



Procura-me
Por entre o aroma do leito de rosas
Onde me fiz tua
Sôfrega de sede desse teu bem-querer

Procura-me
Por entre a luz pálida da lua
Que acolheu nossos gemidos
Nas noites refulgentes de paixão

Procura-me
Gravada nas conchas dispersas na areia
Entoando melodiosos suspiros
Largados nas ondas do mar

Procura-me
Por entre as sombras da saudade
Arrebatando-me em teus braços
Esculpindo o meu amor

Encontra-me
Por entre o pulsar da memória
Crepitando um sem fim de tonalidades
Dentro do meu coração


Maria Escritos

17/09/09

Luz em mim (para ti meu irmão)


Enderecei-me a medo
Com esta saudade
Encravada em mim

As lágrimas rolando
Atrevidas, na minha face
Recordando teu triste fim

Escuto a tua voz
Chamando meu nome
Golpeando os meus sentidos

Nada podendo fazer
Do que segurar e tua mão
E lembrar teus sorrisos vividos


Sinto a nostalgia
Que emana de mim
Dirigindo-me ao teu resplendor, assim

Hoje vesti-me de negro, meu irmão
Para que a tua luz
Possa resplandecer em mim


Maria Escritos

14/09/09

Este meu luzir


Não é por me doer
Que me torno infeliz
Carrego nos meus sonhos
Tudo aquilo que sempre quis

Não choro pela dor
Do teu coração não me achar
È somente por este sentir
De não ter a quem me dar

Abraço este sonho
De amor imaginado
Em pensamento uno-me a ti
E só a ti, meu amado

Longe de ti ficarei
Adoçando este sentir
Guardando-o no coração
Para os dias que hão-de vir

E não te entristeças
Se a minha boca não sorrir
Podes ter a certeza
Que algures, por ti , estou a luzir



Maria Escritos

13/09/09

Amor é...


Amor,
É a luz que me ilumina
E que brota dos meus olhos
Quando olho para ti

É a estaca que me mantém erguida
Percorrendo os atalhos da vida
Levando bramidos na palma da mão

È o sopro que eu respiro
Em cada passo percorrido
Nesta lenta consumição

É a ternura com que me deito
Afogada no pensamento
Da minha cabeça poisada sobre o teu peito

É a pele com que me visto
São as sombras com que me pinto
É a saudade cravada na minha mão

São as jóias com que me enfeito
Flamejando inquietas
Neste sentimento talhado no coração

O meu Amor,
É uma ferida aberta sem fechar
Boca aberta sem falar
Exclamando apenas um suspiro
Um leve gemido
De um beijo por dar


Maria Escritos

Uma mensagem de amor


Meu amor,

Sei que hoje estamos magoados um com o outro. Existem mágoas de feridas abertas não saradas, que ficaram acumuladas com o passar do tempo…esse tempo tão precioso para ti, para não te permitires a partilha-lo comigo senão em breves minutos ou instantes do dia Esse tempo que pediste para organizar as tuas coisas, a tua vida, para me acolheres no seio dela… mas o tempo passou e, voltou a passar e nós não passamos à fase seguinte.

Dei-te tempo e amor, recebi distância e vazio. Tentei estar ao teu lado e nunca te abriste comigo, senão em pequenas frases que deixaste escapar desapercebido. Tentei conversar contigo e sempre acabámos discutindo por pequenos nadas que se transformaram num grande tudo. E nesse tudo, de dor, temos vindo a viver.

Dizes que me amas, mas nunca, em pequenos gestos ou atitudes o demonstraste e eu chorei, choro e vou chorar, por te dar tanto de mim. O tempo que te dei não serviu para nada a não ser para me manteres prisioneira nas tuas promessas de amor e de esforço para superarmos as nossas dificuldades. O tempo que te dei serviu para aumentar o meu vazio e o sentimento de me quereres afastada da tua vida. O tempo que te dei serviu para envelhecer a minha alma e modificar a minha alegria. O tempo que te dei obrigou-me a viver em sonhos, repletos de paixão, e tão bem carregados de amor… o nosso amor! Mas não passaram disso, de sonhos sonhados com o meu coração. E esse mesmo tempo, que tu tanto pediste, encarregou-se de trazer as tempestades que apagaram as névoas desses sonhos, esfumando-os no passado.

Houve um dia em que te disse que já não sei se te amo, mas hoje digo-te que te amo com todas as forças do meu ser. A minha Alma chora porque sempre me mantiveste á distância na tua vida, o meu coração desatinado grita bem alto por ti, e a minha razão já não conhece nenhum outro raciocínio lógico a não ser este amor a que me entreguei profundamente.

Quero-te, como quem que agua para matar a sede ou como quem procura alimento para matar a fome mas eu não posso viver assim! Então refaço a minha vida, escrevendo a minha dor e estas cartas tolas de amor. Mas não seriam tolas, se não fosse puro, o amor.

Se um dia vires lá bem longe, no alto do céu, uma estrela sozinha essa serei eu a guiar-te pelos trilhos da vida e a aquecer o teu coração. Ao longe, dei-te o meu tempo, e lá longe, dar-te-ei a minha luz.


Com todo o meu amor,







Maria Escritos